Os fiéis acudiram em peso ao Parque das Nações para um regresso efusivo dos Red Hot Chili Peppers, esta quinta-feira. Já passavam mais de 11 anos desde da sua última atuação por cá, no Rock in Rio Lisboa, mas as juras de amor mantinham-se intactas por parte de quem ficou por este canto plantado junto ao Oceano Atlântico. Mas antes da bênção do quarteto maravilha, vale a pena recordar vários artistas que passaram pelos palcos do Super Bock Super Rock.

Se Alexander Search, baseado nos heterónimos ingleses de Fernando Pessoa, ganhou vida na banda liderada por Júlio Resende e na voz de Salvador Sobral, também houve oportunidade de espreitar os Capitão Fausto ou de revisitar os sons tropicais do conjunto oriundo do país irmão, os Boogarins. "Lá vem a Morte" foi a nova mala que os brasileiros trouxeram na bagagem do outro lado do oceano, mas é ao som de "Lucifernandis" ou de "Doce" que sentimos mais familiaridade, visto que a banda de Goiânia já é quase que uma presença habitual no nosso país.

Pouco depois, arrancava o primeiro concerto do dia no palco principal do SBSR. The New Power Generation, a banda que acompanhou Prince entre 1990 e 2013, voltou a Portugal com Bilal para uma noite de magia e encanto, mas sobretudo para recordar o malogrado génio norte-americano. Com Ana Moura a cantar "Little Red Corvette", o concerto ganharia mais relevo já na reta final, já com as interpretações mais conhecidas, de "Kiss", "Raspberry Baret" ou a mítica "Purple Rain", cantada a pulmões por parte do público que enchia, na altura, metade do MEO Arena.

Numa volta pelo recinto, passámos rapidamente ao palco EDP onde vimos Kevin Morby, de regresso a Portugal, depois de uma atuação na última edição do Vodafone Mexefest. Desta vez, "City Lights" foi o centro das atenções, mas o público colaborou mais com o cantautor norte-americano quando ouviu "Parade" ou "I’ve Been To The Mountain".

Já na outra ponta, no Palco LG, os Throes + The Shine provocaram um terremoto de proporções épicas. Ao som do seu género tão sui generis “rockuduro”, proporcionaram algo que é o título de uma das suas faixas, "(Hoje é) Festa". O grupo com raízes no Porto desceu a Lisboa e provocou a euforia total no meio do público, com direito a mosh, a agachamentos sincronizados ou simplesmente saltos e pulos para ver se o chão cedia. Diron e Mob arrasaram, o público aplaudiu e agradeceu por tudo.

O grande final

O relógio avançava vagarosamente, como que a teimar que não chegasse à meia-noite, hora marcada para o concerto do dia ou do ano, conforme a maioria do público ali presente. A ânsia de voltar a ver o quarteto, a primeira vez em Portugal desde da saída do John Frusciante, em 2009, era muita. "The Getaway" foi lançado no ano passado, mas mesmo não tendo grande aclamação por parte da crítica, há espaço para afirmar que a identidade dos Red Hot Chili Peppers não se tinha perdido e que continuavam a ser uma banda capaz de marcar uma geração (ou várias, porque não foram poucos os casos que se viram pais e filhos a assistir ao concerto), de movimentar massas.

São, como poucos, um grupo de encher estádios e pavilhões, e por isso mesmo é que é bem provável que não coubesse mais nenhuma viva alma dentro do MEO Arena quando bateram as 0h04, hora a que Chad Smith, Flea, Josh Klinghoffer e pouco depois Anthony Kiedis subiram a palco.

Nesta autêntica celebração campal, os devotos entraram em histeria total logo com "Can’t Stop" e "Snow (Hey Ho)", faixas que provavelmente tornaram as vozes mais roucas, embora mais alegres.

Anthony Kiedis, mesmo sem ligar às proteções nos joelhos, salta, corre e pula de um lado para o outro. Sabem que têm o público na mão mas mesmo assim querem incentivá-lo e puxar por uma celebração única. Chad Smith, ou bem que podia ser Will Farrell com tatuagens, persegue a sua missão na bateria com mestria enquanto que Flea puxa pelo baixo com sons capazes de romper com as colunas do MEO Arena.

Já Josh Klinghoffer parece uma criança quando recebe um brinquedo novo, ao tratar com a maior estima a guitarra e exibindo-se com um à vontade incrível e sem medo de arriscar e explorar o mundo mágico das cordas. "Dark Necessities", "Go Robot" ou "Californication" são temas que fazem parte de uma comunhão total entre palco e plateia. Se a divindade é a música e o rock, o quarteto encaixa como os sumos pontífices ideais.

Também há coisas que nunca mudam, como o facto do Kiedis nunca interagir com o público. Mas que importa isso? Na verdade, Flea pegava no microfone sempre no fim de cada ato, ora para agradecer a vinda do público, ora para dizer que achava graça aos sticks luminosos que seriam um sinal de que os ácidos estaram a dar efeito. O tempo que parecia no início demorar muito, agora avança vertiginosamente. "Soul to Squeeze" e "By The Way" marcam a despedida da banda, antes do habitual e mais que previsível encore, que é ao som das mais esperadas "Angels" e "Give it Away", sons que marcam gerações e momentos históricos de uma banda que já ultrapassa os trinta anos de carreira.

Com certeza que terão ficado a faltar imensos temas, mas também poderá consolar e intrigar a forma como Chad Smith se despediu no fim, com um “see you soon”. Esperemos que estivesse a falar a sério e que não demorem mais de dez anos a voltar...

Para o segundo dia do festival, o Super Bock Super Rock terá uma oferta voltada para o hip hop, com Future a encabeçar o cartaz. Mas artistas como London Grammar, The Gift, Pusha T ou Slow J também despertarão certamente o interesse do público ao longo desta sexta-feira.

Foto dos Red Hot Chili Peppers: Página de Facebook do Super Bock Super Rock (a imprensa digital não teve autorização da banda para fotografar o concerto)