“Abnegada trabalhadora, resiliente operária da cultura, nunca deixaste de refilar quando te apetecia e de tomar uma posição inequivocamente de esquerda quando era necessário”, acrescenta uma nota de O Bando sobre a atriz Adelaide João, que morreu na quarta-feira, em Lisboa, aos 99 anos, vítima de COVID-19.

“Grande mulher, carismática atriz, no Teatro O Bando e no coração dos teus amigos terás sempre reservado o teu lugar”, frisa a companhia de teatro com sede em Palmela, acrescentando ter tido “sorte” ao conhecer a “mulher, cooperante, grande atriz e grande senhora do teatro em Portugal no último século”.

Sobre a atriz a companhia recorda ainda quando esta se decidiu juntar ao projeto, em 1990, quando tinha 69 anos.

“A Terceira Margem Do Rio”, no qual a atriz dizia o texto de João Guimarães Rosa, e “Os Bichos”, onde, num banco de jardim, pendurada a quatro metros de altura, representava a personagem da Cigarra inventada por Miguel Torga, foram alguns dos trabalhos da atriz com o grupo que O Bando recorda.

No texto, a companhia lembra ainda a participação da atriz em “Merlim” (2000), quando interpretou a provocante Morgausa, assim como o facto de Adelaide João, que não gostava de praia e a quem faltava o ar quando molhava os pés, ter andado com água pelo pescoço no lago da Gulbenkian a gritar poemas de António Ramos Rosa.

Tratava-se de “Este Borda D’Água” (1992) que também se realizou na Exposição Mundial de Sevilha no meio de uma multidão que parava sobre as pontes para ver a atriz “passar em cima daquela estranha e inesperada jangada com cem metros de comprimento puxada ao longo do canal por uma única personagem.”

A participação em “Gente singular” (1993), de Manuel Teixeira Gomes, em que representava Sebastiana, é também recordada num texto assinado pelo João Brites, diretor artístico de O Bando, do qual a atriz fez parte desde 1990 e sobre o qual disse tê-la feito “rejuvenescer vinte anos”.