Elisabete Paiva, diretora artística do Festival Materiais Diversos (FMD), que decorre de sexta-feira a 05 de outubro em Minde, Alcanena e Cartaxo (distrito de Santarém), disse à Lusa ser ainda cedo para uma avaliação dos impactos dessa escolha no próprio evento, mas frisou o que transparece já na programação regular e na relação com as pessoas.

“Os vários parceiros, sobretudo os parceiros mais pequenos, com quem temos uma relação quotidiana, estão visivelmente satisfeitos com esta mudança, porque nós temos uma capacidade de dar mais atenção e de refinar o modo de relação e refinar agendas e metodologias com cada um deles. Esses parceiros já deram sinal de que isto é um ganho”, disse.

O alargamento do tempo “sem festival” permitiu ganhar “em momentos de programação entre festivais e vários parceiros beneficiam das atividades novas que surgiram fruto desse novo tempo, que são atividades menos festivas, menos mediáticas se calhar, mas muito impactantes para diferentes pessoas”, disse.

Como exemplo, a programadora apontou o ciclo de “contos na primavera” criado de propósito para o Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde, vila do concelho de Alcanena.

“Isto é um ganho incrível para o museu, até porque são recursos nossos, completamente alocados a este programa, desenhado para esse parceiro, que é o CAORG”, Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro.

Há ainda projetos novos, “criados de raiz” para o agrupamento de escolas de Alcanena e também para os dois agrupamentos do concelho do Cartaxo, além dos projetos de continuidade, o que não era possível quando o festival era anual, salientou.

“Do ponto de vista da mobilização para o festival ainda não sabemos medir. Do ponto de vista relacional já temos ouvido os primeiros sinais”, disse, referindo pessoas que declaram que sentiram a falta desta presença.

“Isso parece uma perda, mas é um ganho, porque sentir falta de alguma coisa é desejá-la. Eu acho que é positivo, porque as pessoas começam a questionar-se o quanto vale aquela coisa da qual sentem falta. E isso é muito interessante. É um espírito absolutamente anti consumista, é o oposto do paradigma em que temos andado mergulhados nos últimos anos, só que temos um bocadinho de medo de falar sobre isso”.

“Por outro lado, sentimos uma grande alegria em grandes opções, por exemplo o facto de termos uma escola de verão de arquitetura, que nunca tínhamos tido, a possibilidade de construirmos um ponto de encontro de raiz, que nunca tínhamos tido, dá uma presença no espaço público que não tínhamos até agora”, salientou.

Elisabete Paiva apontou ainda a presença de várias companhias em residência, já não só no período do festival, mas ao longo do ano, “porque vêm de tempos em tempos fazer as suas residências, entrevistas e pesquisas”.

Há ainda os “impactos de fundo, que o festival tem tido na região ao longo do tempo, como a profissionalização, a disseminação de boas práticas na área da cultura, nomeadamente, junto das associações culturais”, e um “espírito crítico que está a crescer e é fruto do trabalho do festival”.

A associação tem também contratado jovens da região, alguns deles voluntários durante várias edições do festival e que “são agora valorizados, e valorizados no seu território de origem, o que é muito importante na sua relação com as comunidades” e para fixar população nestes contextos, declarou.