O seu novo single, “Quem Sou”, acaba de sair. Qual a história da música?

Paulo Gonzo: O novo single faz parte do novo álbum, “Diz-me”, e é uma canção que pode ser interpretada como se fosse algo autobiográfico, mas ao mesmo tempo foi feita a pensar na questão do direito à diferença. Infelizmente estes problemas existem há muitos anos, não só pela cor ou sexo, e embora estes problemas sejam chamados à atenção, as coisas muitas vezes acabam por ser esquecidas, e por isso achei que seria uma boa oportunidade para dar uma imagem às pessoas que são diferentes. Pessoas tatuadas, obesos, carecas, judeus, indianos, pretos, brancos e amarelos. Todos temos as nossas diferenças, e alguns até têm deficiências físicas, mesmo, e não é por isso que todos nós deixamos de ser pessoas muito inteligentes. São pessoas que estão habituadas a resolver problemas que, comparando aos das pessoas ditas “normais”, esses sim são grandes problemas, e eles resolvem-nos todos os dias. Não é a minha ideia criar um apelo à moral, mas se tenho esta oportunidade porque não aproveitar?

O novo vídeo também acabou por ser feito por fãs do Paulo Gonzo…

Sim, alguns foram convidados, outros eram meus amigos. Um amigo meu entra, e o filho dele também, que tem Síndrome de Down. Um dos participantes veio de cadeira elétrica, fez 400 km de comboio para vir filmar por 20 minutos! É extraordinário. As pessoas vieram de fora e isso é fantástico. É sinal de que seguem a minha carreira, seguem aquilo que eu faço, e é por estas mesmas pessoas que nós continuamos a fazer coisas. Este é um vídeo bastante gráfico, embora seja feito em estúdio, mas não queríamos que os conteúdos ficassem demasiado dispersos, sendo que também abrimos uma janela para a linguagem gestual.

Tendo em conta a longa e bem sucedida carreira do Paulo, considera ser mais fácil ou mais difícil, produzir música atualmente?

Eu nunca penso muito nisso. Eu sinto na pele quando chega o momento (risos). Felizmente nunca fui pressionado para fazer algo em determinada data, e a Sony (Music Portugal), onde estou há muitos anos, dá-me essa liberdade, porque também acho que já adquiri esse estatuto (risos). Muitas vezes aparece-me uma ideia, e eu não estou à espera, e aí eu registo e desenvolvo a mesma caso tenha alguma ponta por onde se pegue. Para já ainda estou a apostar neste disco, e por isso mesmo saiu este novo single logo pela manhã, quando as pessoas estão mais fresquinhas e assimilam mais facilmente (risos).

Neste disco voltamos a ter diversas colaborações. Como foi voltar a trabalhar com tantos artistas como Jorge Palma, Raquel Tavares, Tatanka…

Olhe, desta vez foi completamente sem intenção! Este é um disco de originais, e estas pessoas que estão aqui apareceram na passada, à medida que eu ia fazendo as coisas, exceto o Diego El Cigala, que já era para ter entrado no disco anterior, mas houve um acidente de percurso. No caso do Boss AC, encontrei-o em Boston, e conversa puxa conversa… eu tinha uma música que tinha feito lá, e ele encaixava no perfil. O Palma foi porque eu fiz o “Sem Ti”, e pedi o texto especificamente ao Jorge Palma para aquele tema. No caso do Tatanka, eu já tinha escrito o “I’ve Got Dreams to Remember”, e a pessoa que eu via para ali era ele. A Raquel acabou por ser como uma encomenda, porque houve muitos originais que ficaram de fora! Eu já tinha feito o disco e tive de aguentar mais um mês para puder fazer o dueto com a Raquel Tavares, que eu nem sequer conhecia. Vim depois a descobrir quem era, e o pedido foi feito por causa da novela “Amor Maior” (telenovela portuguesa produzida e emitida pela SIC), porque a música já estava concluída e feita apenas comigo. No fundo foram tudo acidentes, nada foi programado…

Mas pelo menos foram bons acidentes.

Ah, isso sem dúvida! Acidentes destes, venham eles! (risos)

Pegando no tema do novo single, “Quem Sou”, gostávamos de saber, muito sucintamente, quem é o Paulo.

Ena, eu não sei quem sou! (risos) Eu ainda não sei, e acho que nunca vou chegar a descobrir, mas isso é bom! Eu agradeço ter muitas dúvidas, e quem não as tiver, acho que está acabado. (risos)

Pensando naquela que é a imagem de marca do Paulo, se tivesse de escolher entre o seu fato ou a careca, o que escolheria?

Mas eu não visto sempre fato! (risos) Acho que tenho de mudar um pouco. No entanto, o fato não é bem fato… é mais uma conjugação de coisas.

Exato, sempre num tom mais informal.

Ora então, à noite eu dispensava o fato, porque durmo sem fatos (risos). Quanto à careca, eu tenho cabelo, mas rapo por uma questão de higiene básica (risos).

Sim, nós já vimos o Paulo com uns belos caracóis.

Caracóis até à cintura! (risos) Eu era um homem bonito, sim senhor. Mas agora habituei-me a esta careca. É mais simples e prático. Às vezes as pessoas passam-me a mão na cabeça e é muito reconfortante (risos).

Aproveitando agora o título do seu novo álbum, “Diz-me”, o que é que o Paulo gosta que lhe digam?

Que me digam? Eu prefiro antes que não me digam um par de coisas (risos). Inconveniências e coisas que não dizem nada a ninguém. Gosto obviamente que me agradem, mas o mais importante é que sejam sinceras.

Se pudesse voltar a um momento da sua carreira, qual escolheria para revisitar?

Ora, gostava de revisitar uma vez que fui barrado à porta do Coliseu. Eu ia lá cantar e mandaram-me ir comprar o bilhete, por isso gostava de lá chegar desta vez e entrar à primeira (risos).

Uma vez que estamos a caminhar para o natal, qual é o seu desejo natalício?

Pois, não sei… Já não existem as renas, e eu gostava que elas voltassem! Era muito querido ver o Rudolfo. Contudo, para mim o natal é uma época normal vestida de uma forma diferente, mas acho que gostava que viesse mais água, e que as pessoas se virassem mais umas para as outras. Essas pessoas que só se lembrar dos outros no natal, eu abomino essas pessoas! Não se pode esperar pelo natal, tem de ser todos os outros dias. Eu gostava mesmo que o natal deixasse de ser uma quadra hipócrita.