“Pelo prazer de não estarmos sós”, de autoria de Adriana Melo e com interpretação de Anilson Eugénio e Cláudia Guia, que são Elias e Rita na história, estreia naquele festival internacional de teatro, na Maia, e é o resultado da residência artística da Universo Paralelo.

Em palco, há dois quartos, o dele e o dela, lado a lado e sem nenhum sinal que indique qual é o do Elias e qual o da Rita, dois adolescentes, “talvez ali nos 15 anos”, que ao longo da peça vão “sentir tudo” o que é permitido sentir na adolescência para “normalizar sentimentos, duvidas, frustrações e angústias”.

“Este é um espetáculo que aborda os temas da igualdade, da diversidade sexual e de género integrados nas noções de cidadania, cidadania intima e direitos humanos relacionados com algo que consideramos fundamental quando falamos de sexualidade, a noção de prazer”, explicou à Lusa Adriana Melo, à margem de um ensaio da peça.

Mas porquê falar de prazer numa peça para adolescentes? “Porque é quando surgem todas as dúvidas e porque queremos encarar de frente estes temas de sexualidade, identidade de género. Ainda há muito pudor, vergonha, de falar do prazer, de sexualidade, do que é, afinal, o clítoris”, explicou a encenadora.

“Falar destes temas para adolescentes é um enorme desafio, mas tivemos muita atenção em trabalhar a linguagem para que se aproxime do nosso público-alvo, que são os adolescentes. Tentamos adaptar a linguagem e fazer isto de uma forma inteligente, até porque hoje quando se fala de sexualidade fala-se muito de proteção e pouco de prazer”, realçou.

Para a encenadora, na "fase de todas as perguntas e dúvidas, de transformações corporais, é importante sentirem que não estão sozinhos e a escolha deste cenário, dois quartos, vem do facto de se viverem estas dúvidas e dilemas, muitas vezes, sozinhos no quarto”.

Pelo quarto dela vão passar várias situações: “Por exemplo, o assédio. A minha personagem aparece muito perturbada a dizer ‘que nojo’ e a vestir roupa para se tapar. É muito curioso ver que as raparigas identificam logo o que se passou”, explicou a atriz que dá vida à Rita.

“Tivemos adolescentes a assistir a ensaios e eles identificaram-se bastante. E mesmo eu, enquanto jovem adulto, identifiquei-me muito com muitas das questões que aqui deixamos. Quando somos adolescentes não sabemos o que sentir ou se é certo sentirmos o que sentimos e o espetáculo vem normalizar esses sentimentos, também validá-los”, explicou Anilson Eugénio.

E depois há toda uma montanha de dúvidas sobre identidade e, claro, o amor, a atração e sexo: “Ainda há muitos risinhos na plateia, olhares cúmplices. Há uma cena em que o Elias vai ao quarto da Rita e há toda uma expectativa dos dois sobre o que vai acontecer. A desculpa é que têm um trabalho para fazer mas há aquela expectativa tão normal da idade”, disse Claudia.

“Pelo prazer de não estamos sós” foi escrita a pensar nos adolescentes mas, salientam autora e interpretes, vai muito além dos 12 aos 18: “É para adultos também, sem dúvida. Os adultos vão rir, vão reconhecer estas emoções”, respondeu Adriana Melo.

“E principalmente para os pais, sem dúvida. Para saberem como abordar estes temas, para dar o mote à conversa, vai ajudar a perceber muita coisa”, reforçou Anilson.

O espetáculo estreia quinta-feira no âmbito do “Fazer a Festa”, festival internacional de teatro que decorre na Maia até dia 14 e segue depois para Lisboa, Moita, Évora e outros destinos.