Os The Happy Mess, banda composta por Miguel Ribeiro, Joana Duarte, Rui Costa, Pedro Madeira e João Pascoal, regressam aos palcos portugueses com o seu novo álbum, 'Half Fiction'. Para o conhecer um pouco mais, o SAPO On The Hop esteve à conversa com dois elementos, Miguel Ribeiro (voz e guitarra) e João Pascoal (baixo e sintetizadores).
SAPO On The Hop: Para começar, queremos saber como se sentem com este vosso regresso.
Miguel Ribeiro (MR): Para já sentimo-nos um bocadinho cansados (risos). Os últimos tempos têm sido tortuosos! Finalizar o disco é uma parte muito cansativa porque são muitos pormenores, e depois toda a logística de lançar o disco também cansa, embora nós estejamos com a Sony, mas continua a depender muito de nós. Depois disso, e sobretudo a preparação dos concertos para o novo disco implica um desafio diferente dos concertos normais, pelo que tem sido bastante cansativo, mas estamos felizes.
O vosso método de produção foi diferente desta vez. De onde surgiu essa ideia?
MR: Bem, nós tinhamos de arranjar um método qualquer! (risos) Esta hipótese surgiu através de amigos do Paredes de Coura, do João Carvalho e do festival, e mesmo do Vitor Pereira, o presidente da câmara municipal. Eles desafiaram-nos a ir lá fazer uma residência artística no meio de uma floresta e nós aceitámos! Fomos para lá uns dias e achávamos que ia ser impossível, mas de facto resultou muito bem porque estávamos completamente isolados de tudo e de todos. Em grande parte do dia só ouvíamos pastores ou algumas pessoas que nos iam levar comida. Não tínhamos internet, não tínhamos telefone, ou pelo menos desligámos o mesmo que raramente funcionava.
João Pascoal (JP): Não havia sequer rede!
MR: Exato, e por isso estávamos mesmo concentrados naquilo que tínhamos para fazer. Tínhamos muitas ideias e cada um de nós já tinha os seus riffs, e a verdade é que 80% ou 90% do disco foi feito nessa semana.
No entanto, apesar de todo esse clima mais primitivo, o álbum tem sido muito elogiado pela crítica. Julgam que o ambiente em que o produziram vos influenciou?
JP: Eu não sei bem se terá sido o ambiente. É óbvio que foi muito importante para nós ter consigo estar todos juntos e focados durante uns dias - uma semana, basicamente. Contudo, penso que isto também foi fruto da experiência com o nosso primeiro disco.
MR: Eu acho que o facto de estes elementos estarem juntos há já dois anos faz com que todos comecemos a conhecer-nos melhor, e a sonoridade acabou por ganhar personalidade. Uma banda não nasce adulta, como costumo dizer. Ela nasce criança, passa pela adolescência e por fim torna-se adulta, e nós também tivemos de passar por esse período. E se hoje o nosso som tem alguma maturidade, embora eu espero que também tenha alguma infantilidade e irreverência, isso tudo é por termos passado pelas mais diversas fases, e sobretudo pelo facto de nos conhecermos melhor. Inicialmente entrou e saiu muita gente, como acontece com muitas bandas, até haver um encontro definitivo e isso aconteceu nestes dois últimos anos da banda.
A ausência dominante da influência rock foi algo apontado pela crítica como uma das grandes diferenças da vossa sonoridade. Ainda assim, no vosso ponto de vista, qual é a maior diferença de um álbum para o outro?
MR: Essa é sempre difícil de responder em causa própria! (risos)
JP: Eu, como músico da banda, não noto grande diferença...
Provavelmente por ser um trabalho diário e de contacto constante.
JP: Sim. As influências continuam a ser aproximadamente as mesmas, apesar de existirem sempre algumas mudanças. Essencialmente existiram novas sonoridades que nós quisemos experimentar neste novo disco, coisa que não tínhamos tido a oportunidade no anterior.
MR: Acaba por ter a ver com a maneira como pegas nas músicas. As nossas bases são as mesmas, mas são apenas trabalhadas de outra maneira, mas as guitarras estão lá. E é claro que há elementos novos que foram trazidos pelo Rui Maia, dos X-Wife, o nosso produtor, que acabou por nos trazer elementos mais eletrónicos que nós, intuitivamente, não os usaríamos, devido à nossa forma de ver a música, mas foi o que acabou de acontecer meses depois e que resultou lindamente. Por isso é natural que se notem essas influências.
Porquê o título "Half Fiction"?
MR: Tudo veio do universo das letras. Começámos a olhar para o que estava escrito e para o que estávamos a dizer e percebemos que havia ali um universo que era dividido a meio. Um universo ficcional, embora com as emoções que todos nós temos: amor, frustração, etc. Está também ligado ao universo em que vivemos, com as crises morais e económicas que todos nós temos, e eu acabei por ser o porta-voz da banda ao passar a ideia das pessoas estarem resignadas com aquilo que acontece à nossa volta, e por não refletirem sobre o que lhes sucede todos os dias. E o disco é mesmo isso, a verdade pura e dura, enquanto ainda damos lugar à imaginação.
O vosso primeiro concerto de apresentação do novo álbum é já no dia 9 de outubro, no Hard Club, no Porto. Quais são as vossas expectativas?
JP: Bem, o Porto sempre tem deixado um historial muito curioso. Nós temos sempre casa cheia no Porto, pelo que as expectativas são altas, mas não sei se isso é bom ou não. Estamos especialmente ansiosos por mostrar o novo trabalho, por sentirmos que tivemos alguma evolução e estarmos realmente contentes com o resultado deste novo disco. O que mais queremos é partilhar o mesmo com as pessoas que gostam da nossa música.
MR: Quando são muito altas estamos sujeitos a ficar tristes, mas de facto o Porto nunca nos desiludiu. E a grande curiosidade é saber como as coisas vão resultar ao vivo, porque uma coisa é nós fazermos a música para estúdio, mas depois temos de nos adaptar aos espetáculos ao vivo, apesar de nos sentirmos mais confortáveis assim por pudermos transmitir a energia que às vezes é difícil de se passar para o disco. Não diria que estamos com as pernas a tremer mas... (risos) Isto é um parto, e nunca ouvi mulher alguma dizer que é fácil parir. (risos)
A 'Última C.E.I.A.' é a única faixa do vosso novo álbum que vem em português. O que vos levou a fazê-lo uma vez que todo o vosso trabalho é quase 100% em inglês?
MR: A 'Última C.E.I.A.' foi um desafio, mais do que uma pressão. Digo-te já que começou por ser uma música em inglês e depois pensámos 'então e se experimentássemos em português?'. Vou também confessar-te que todos nós gostávamos mais da versão em inglês (risos). É muito difícil cantar em português, mas nós quisemos fazer a experiência e acho que não resultou mal. (risos)
O é que mais mudou na vossa rotina desde o início da banda?
JP: Penso que foi o facto de nos conhecermos melhor, não só como amigos mas como músicos.
MR: Exato, tal como quando o João apareceu e eu não o conhecia. Aparecemos através de conhecido deste e daquele. Essa é a maior diferencça, é que hoje somos amigos e não estamos juntos apenas na música.
Qual o vosso maior objetivo como banda?
JP: Eu penso que o nosso maior objetivo é chegar ao maior número de pessoas possível.
MR: Ganhar público e saber que há feedback daquilo que nós criamos e as pessoas gostam. Queremos ganhar cumplicidade com quem nos ouve.
Por fim, se tivessem de definir a banda numa única palavra, qual seria?
MR: Meu deus, uma palavra... (risos) Talvez 'mess' (risos). Não sei, uma palavra só é muito ingrato...
É esse o desafio!
JP: Nós também somos 'happy' (risos).
MR: Ó pá, odeio estas coisas (risos)
JP: Uma palavra é lixado...
São mais 'mess' ou mais 'happy'?
MR: Mais 'mess'!
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