"A obra é uma advertência sobre a violência exercida contra as mulheres", disse Melisa Kumas, uma holandesa de 27 anos que esteve presente na cerimónia de lançamento, vestida de vermelho, para recordar o uniforme das "servas".

Atwood "tornou-me mais consciente da política que me rodeia. Agora estou mais concentrada na atualidade para assegurar que não aconteça o pior", completou, na conversa com a AFP, antes de ouvir, logo após a meia-noite de segunda-feira, a leitura feita pela escritora, de 79 anos, de excertos do novo livro.

A continuação, que chegou às livrarias esta terça-feira, promete ser um grande sucesso: o livro foi selecionado entre os finalistas do Booker Prize 2019 e a sua adaptação para a televisão já está em curso.

A obra segue os passos da predecessora, que se tornou um sucesso de vendas recentemente devido à adaptação a série de televisão, na aclamada "The Handmaid's Tale". "A História de Uma Serva" vendeu oito milhões de cópias em todo o mundo só na sua versão em inglês.

Tia Lydia

Em 1985, Atwood imaginou os Estados Unidos transformados na República de Gilead, um país totalitário teocrático onde os dirigentes violam, em cerimónias religiosas com a ajuda das esposas, as mulheres capazes de procriar, as "servas", para ficarem com os seus bebés.

As regras são justificadas por um suposto Deus omnipresente nos costumes diários, até mesmo nos cumprimentos: em Gilead, todas as conversas começam com a expressão "Bendito seja o fruto".

Prémio Franz Kafka 2017 distingue Margaret Atwood, autora de

Neste mundo obscuro, uma mulher, June, tenta sobreviver. No primeiro livro, ela é a responsável por conduzir o leitor, através de um monólogo angustiante, por esta ditadura misógina, na qual o papel de serva reprodutora é imposto, e o de mãe, retirado.

June tem duas filhas, mas não tem direitos sobre nenhuma delas.

"The Testaments" decorre 15 anos depois da história original: Agnes vive em Gilead, enquanto a sua irmã, Daisy, mora no Canadá e fica horrorizada com os abusos cometidos do outro lado da fronteira.

É, sobretudo, a voz de uma terceira narradora que mantém o leitor em suspense: a tia Lydia, a maquiavélica líder das "tias", grupo de mulheres responsáveis por escravizar as compatriotas férteis.

Ao longo dos capítulos, o leitor descobre o seu passado de mulher livre e as etapas da sua transformação num monstro, construída pelo instinto de sobrevivência perante homens tirânicos, mas também pelo seu desejo de poder... até se torne poderosa para abalar aqueles que a dominam.

Há quase 35 anos à procura de respostas

Atwood demorou quase 35 anos para conceber a sequela, inspirada pelas perguntas feitas pelos seus leitores.

Trinta e cinco anos representaram muito tempo para refletir sobre as respostas possíveis, que evoluíram à medida que a sociedade evoluía e as hipóteses se tornavam realidade, afirma a escritora no final do livro.

Handmaid's Tale

"Os cidadãos de muitos países, incluindo os Estados Unidos, sofrem hoje tensões mais fortes do que há três décadas", completa.

Grande sucesso após a sua publicação em 1985, "A História de Uma Serva" tornou-se um verdadeiro manifesto feminista dos tempos modernos após sua adaptação televisiva em 2017, que apresentou a obra a um novo público.

Em diversos países, a figura da "serva", com a capa vermelha e o chapéu branco, tornou-se um símbolo imediatamente reconhecido em manifestações da agenda feminista, como a defesa do direito ao aborto.

Nos Estados Unidos, tornou-se um símbolo contra Donald Trump, mas também eco do movimento #MeToo, como uma parábola da tendência conservadora norte-americana desde a chegada do presidente ao poder.