Há pessoas que não combinam com a morte

Com uma abertura muito bem gravada e desenvolvida (aliás, a série nunca nos falhou no que toca a qualidade de fotografia e edição dos episódios), "The Broken Man" traça logo um bom ritmo para o episódio, marcado pelo regresso de Sandor Clegane (Rory McCann), o famoso Cão de Caça.

O antigo guerreiro sobreviveu aos ferimentos que sofreu durante a sua luta contra Brienne (Gwendoline Christie) e vive agora com um pequeno grupo de crentes nómadas, liderados por Ray (Ian McShane), uma versão mais simpática do High Sparrow.

Admitindo já ter sido um soldado com vários pecados cometidos na sua vida, Ray prova ser aquela personagem perfeita para, com os seus sábios discursos, ajudar Clegane a aceitar que já foi punido pelos Sete Deuses por tudo que fez de mal. O objetivo é que o outrora amante de violência consiga começar uma nova vida.

Claro que entretanto surgem três membros da Brotherhood Without Banners, ameaçam assaltar o grupo de Ray e, quando Clegane está na floresta à procura de lenha, acabam mesmo por matar todos, o que, pelo que conseguimos perceber, coloca de novo o Cão de Caça à procura de uma presa (porque a utilidade duma personagem dessas não é ficar a cantar à volta da fogueira).

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Por baixo de toda a fé

Boa, mais uma daquelas conversas entre o High Sparrow (Jonathan Pryce) e a rainha Margaery (Natalie Dormer) que parecem ser parte da missa das 19 horas e que se passa sempre dentro da única sala que o Grande Septo de Baelor parece ter (aqui a produção da série podia tentar caprichar um bocado e, já que é para ouvir o "Sermão de High Sparrow aos peixes" várias vezes, que pelo menos fosse em diferentes cenários).

O que salvo de tudo isto, sem ser a ameaça que o líder da fé aos Sete Deuses faz a Olenna Tyrell (Diana Rigg), é a forma como a rainha convence a sua avó a deixar a cidade e regressar para a segurança de Highgarden: passando-lhe um papel escondido com o símbolo da casa Tyrell desenhado. Está assim provado que esta transformação de Margaery deverá fazer parte de um plano maior que ainda nos poderá surpreender bastante.

Quem decide também aparecer é Cersei (Lena Headey), que diz a Olenna que esta não pode deixar King's Landing porque devem preparar a vingança contra o High Sparrow. Mais uma cena que mostra um pouco do desespero que Cersei tem demonstrado esta temporada, uma mera sombra da incrível personagem que antigamente era. Criadores da série, têm ainda três episódios para conseguirem salvar a prestação da antiga rainha que adoramos odiar. Força!

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A guerra ainda não acabou

Uma das razões porque Cersei agora está ainda mais sozinha é o facto de o seu filho, rei Tommen (Dean-Charles Chapman), ter ordenado que Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) deixasse King's Landing e seguisse para Riverlands, onde iria ajudar as tropas de Walder Frey no cerco a Riverrun, que entretanto foi recuperada por Blackfish (Clive Russell), tio da falecida Catelyn Stark.

A decisão até foi acertada porque, quando Jaime e Bronn (Jerome Flynn) chegaram ao seu destino, encontraram tropas da casa Frey totalmente desorganizadas e com estratégias pouco eficazes, como ameaçarem matar Edmure Tully (Tobias Menzies), pessoa com quem Blackfish pouco se importa. Deixo aqui um destaque para o papel cómico de Bronn, que continua a ser uma agradável presença nas várias cenas em que participa.

Jaime decide então tentar resolver as coisas de forma pacífica com Blackfish, mas o veterano parece não estar inclinado a aceitar qualquer tipo de acordo com um Lannister (e, na verdade, ninguém o pode culpar por isso). Surge assim aqui uma situação com potencial para se tornar em mais uma grande batalha do Norte.

O peso do nome Stark

Podem ter começado a série como uma das grandes casas de Westeros e é certo que se têm mantido como os heróis da saga, mas não se pode negar que os Stark têm sofrido derrota atrás de derrota. Mesmo com algumas pequenas vitórias aqui e ali, para irem compensando o dinheiro que os fãs têm gasto em psicólogos desde 2011, a verdade é que o maior nome do Norte já não parece ter o poder de outrora.

Isso nota-se durante a missão de Jon Snow (Kit Harington) e Sansa (Sophie Turner) para conseguirem arranjar mais aliados para a batalha eminente contra Ramsay Bolton (Iwan Rheon) pelo controlo de Winterfell. Com algumas casas a disponibilizarem (poucos) soldados e com outras a quererem cortar qualquer relação com os Stark (muito por causa de como toda a situação com Robb Stark terminou), o verdadeiro destaque vai para Lyanna Mormont, representante máxima da casa Mormont.

Com um grande desempenho por parte da jovem atriz Bella Ramsey, esta parece ser uma ótima adição para o elenco e, vista a forma como toda a cena entre ela, Sansa, Jon e Davos (Liam Cunningham) se desenrolou, conclui-se que os escritores da série continuam com uma capacidade incomparável de criarem diálogos cativantes, dramáticos e mesmo com alguma comédia, tudo ao mesmo tempo.

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O que ainda resta de um homem

Theon (Alfie Allen) e Yara (Gemma Whelan) parecem já ter consigo despistar o tio Euron Greyjoy (Pilou Asbæk) com a grande frota que roubaram das Ilhas de Ferro. Passando-se em Volantis, esta rápida cena com os irmãos serviu bem os seus propósitos: trouxe a dose semanal recomendada de prostituição, destacou o facto de Yara ser a primeira personagem de relevo na série a assumir-se como lésbica e lembrou-nos de que os traumas que Theon sofreu não são assim tão fáceis de reparar.

Foi bom ver a jovem confiante com o seu plano de encontrar Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) e a dar um bom discurso de motivação ao irmão. Sempre mantendo presente a faceta de "amor duro" que caracteriza a relação dos dois, é agradável ver que ainda há alguma empatia familiar em Westeros.

Mais um daqueles sustos

Vamos por partes. A Arya (Maisie Williams) não conseguiu concluir a missão de que Jaqen H'ghar (Tom Wlaschiha) a encarregou no último episódio. Arya basicamente voltou a ser uma Stark, mas agora sabe uns truques novos de espionagem. Sabendo que Waif (Faye Marsay) a ia tentar matar por não ter conseguido terminar a missão, Arya foi prudente e escondeu-se num local escuro com a sua espada bem perto.

Já neste episódio, Arya anda por Braavos despreocupada, a ver paisagens, a tentar encontrar boleia em algum barco que a leve para longe e a deixar-se ficar totalmente vulnerável. Talvez tenha sido excesso de confiança ou precipitou-se com toda a vontade de sair da cidade, mas a verdade é que a jovem cometeu um erro grave que acabou com a mesma a ser esfaqueada. Sim, é verdade, a única relação leal que os Stark têm é com facas!

Waif, mascarada de idosa com uma das suas já famosas máscaras especiais, apanhou Arya totalmente desprevenida e obrigou a jovem a fugir pelo rio, acabando novamente nas ruas de Braavos, desta vez ensanguentada e desnorteada. Ainda assim foi um bom momento, serviu aquele susto típico de final de episódio e deixou-nos totalmente sem saber o que pensar do futuro de Arya, uma das personagens que melhor história tem apresentado ao longo da sexta temporada.

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No final, se realmente nada de extremamente chocante aconteceu em "The Broken Man", pelo menos sabemos que a história continua a avançar de forma coerente, agora com novas personagens e regressos inesperados. Salvou-se assim de ser apenas mais um episódio "para encher" que, no caso de "A Guerra dos Tronos", ainda significa um produto melhor do que 80% do que se encontra na televisão atual.

Nota: 8/10