A série, organizada pela Universidade de Coimbra (UC) e produzida pela Terratreme, conta com quatro episódios de realizadores diferentes - João Nicolau, André Godinho, Susana Nobre e Luísa Homem e Tiago Hespanha -, que têm como ponto de partida as expedições botânicas em África, realizadas por naturalistas da UC, desde os anos de 1700.
A partir desses trilhos, fala-se da 'welwitschia mirabilis', "o ornitorrinco do mundo vegetal", no deserto do Namibe, em Angola, das espécies que resistem à subida do mar, num mangal em Moçambique, ou de plantas que crescem de cima para baixo, nas florestas tropicais de São Tomé e Príncipe.
"Há uma ideia de base muito forte que é falar de plantas", disse à agência Lusa o coordenador do projeto e diretor do Jardim Botânico da UC, António Gouveia, referindo que só isso "é já um desafio".
Sendo mais fácil a ligação de um espetador a um animal "do que a uma planta", são necessárias "narrativas quase épicas de como as plantas vivem naqueles sítios", para mostrar que, na aparente estática da flora, "há um dinamismo muito forte", sublinhou.
O projeto dá também seguimento ao trabalho da UC no tratamento do "manancial de informação" que se encontra nos seus "armários, corredores e gavetas", alimentado pelas expedições que os seus naturalistas foram fazendo ao longo de mais de 200 anos.
Por isso, nos quatro filmes, haverá referências a correspondência, objetos museológicos, colheitas realizadas, fotografias ou vídeos.
No terreno, além da equipa de realização, esteve António Gouveia e o biólogo Jorge Paiva, "o grande descodificador da vegetação", que dá uso do seu conhecimento "enciclopédico" da flora africana tropical, para fazer "um bocadinho o papel de David Attenborough", naturalista que se popularizou com programas de história natural na BBC.
No sábado, a série arranca às 20:00, com o documentário realizado por João Nicolau, em Moçambique, em que se fala do mangal na costa norte moçambicana, do sistema de 'inselbergs', no interior do país (estruturas geológicas que funcionam como ilhas no meio da paisagem), e da floresta de miombo - "a maior formação vegetal contínua em África".
A 30 de julho, pelo olhar do realizador André Godinho, a série segue o caminho do botânico Luís Carrisso, no início do século XX, em Angola, onde se aborda a "icónica" 'welwitschia', uma planta que pode atingir mais de 1.000 anos de vida, com duas folhas que crescem continuamente e que apenas existe no deserto do Namibe.
As "viagens filosóficas" impulsionadas no final do século XVIII são abordadas no filme de Susana Nobre, a 06 de agosto, em que se percorrem os arquivos, herbários e práticas metodológicas ao longo do tempo, numa espécie de "episódio contextualizador da Universidade e da botânica", explanou António Gouveia.
A série termina a 13 de agosto, com um documentário dos realizadores Luísa Homem e Tiago Hespanha, centrado na "diversidade enorme" da floresta tropical de São Tomé, partindo de uma viagem feita no final do século XIX pelo jardineiro chefe da UC, Adolfo Möller.
Segundo André Godinho, cada realizador assumiu o seu ponto de vista, estética e narrativa para esta série.
Face a essa liberdade, cada filme tem focos diferentes, podendo estar mais próximos das pessoas ou das plantas, ou até centrados na própria ideia de viagem, que foi a abordagem seguida por André Godinho, procurando retratar a descoberta no decorrer do percurso, recorrendo a filmes feitos numa das expedições do início do século XX, fotografias e até "planos" captados por um 'iphone'.
O projeto do Centro de Ecologia Funcional da UC foi cofinanciado por fundos europeus.
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