As autoridades antipirataria garantem que reprimem o streaming ilegal de filmes e séries, mas os dados sugerem que a prática está a crescer, chegando às 215 mil milhões de visitas ilegais em 2022.

Os valores indicados pela britânica MUSO - Protect, Discover & Connect, que reivindica ter os dados mais abrangentes sobre sites de pirataria, mostram um aumento de 18% entre 2021 e 2022, cobrindo 480 mil filmes e séries.

"Continua a ser tão fácil como sempre obter conteúdo ilegal", disse o presidente executivo Andy Chatterley.

A indústria do entretenimento não desiste, mas reconhece que os esforços anteriores foram contraproducentes. Atingir pessoas com multas pesadas por fazerem o 'download' de alguns filmes fazia-os parecer 'bullies' corporativos, enquanto os mandatos judiciais para bloquear sites costumavam ser uma absoluta perda de tempo.

Hoje em dia, a atenção concentra-se nos "peixes grandes" - "as pessoas que compram grandes carros com os milhões que estão a ganhar com sites de pirataria", nas palavras de Stan McCoy, da Motion Picture Association, que representa os estúdios de Hollywood.

Em 2017, foi formada a Alliance for Creativity and Entertainment (ACE) para coordenar os esforços antipirataria com outros grupos da indústria a nível global. Faz o trabalho prático para rastrear os grandes operadores e avisar a polícia.

Só em 2023, a ACE ajudou a fechar operadores na Espanha, Brasil, Alemanha, Vietname, Egito e Tunísia, cada uma com milhões de utlizadores mensais.

A organização reivindica resultados evidentes, medidos em penas de prisão para os operadores e opções reduzidas para os utilizadores. A ACE diz que o número de serviços de subscrição ilegal caiu de 1.443 para 143 nos EUA sob sua supervisão.

Encontrar desculpas

Mas entretenimento gratuito ainda é fácil de encontrar.

Um jornalista da France-Presse apenas precisou de alguns minutos para pesquisar no Google uma lista de sites de streaming ilegais e ter acesso aos episódios mais recentes das séries de sucesso "Succession" e "White Lotus" sem qualquer inscrição ou pagamento.

Muitos são piratas de conteúdo que não se intimidam com repressões.

O fórum de discussão r/pirataria no Reddit tem 1,2 milhões de membros e todas as justificações concebíveis para o seu passatempo, desde o custo das plataformas legais de streaming até à falta de acesso em certos países e vagos protestos anticapitalistas.

Alguns são surpreendentemente francos: "Não tenho desculpas. Poderia pagar por tudo se quisesse, mas, em vez de dar o meu dinheiro para o presidente executivo de alguma empresa de entretenimento que ganha mil vezes mais do que eu, prefiro apenas economizar o dinheiro para a minha própria reforma", escreveu o utlizador do Reddit ScarecrowJohnny.

Neste momento, domina uma desculpa: a explosão de opções de streaming, com conteúdo agora espalhado por subscrições cada vez mais caras da Netflix, Amazon, Disney+, HBO Max e muito mais.

"Estava a pagar por um ou dois, mas agora há 50 dessas malditas coisas e tudo no mundo custa mais praticamente todos os dias, portanto voltei à pirataria", escreveu o utilizador Jaydra.

Os vigilantes da atividade não se deixam impressionar.

"As pessoas encontram sempre uma desculpa para a pirataria. Antigamente, não havia opções suficientes - agora são demais", salienta disse Stan McCoy.

Imensos avanços

Ironicamente, à medida que o ambiente do streaming se fragmenta, os dados de pirataria do MUSO tornaram-se uma das formas mais precisas para as empresas de entretenimento medirem quais os filmes e séries que são genuinamente populares.

No ano passado, as principais escolhas foram "Homem-Aranha: Sem Volta a Casa" no cinema e "House of the Dragon" na TV - e 95% das visualizações atualmente vêm de streaming ilícito, em vez de 'downloads' como antigamente.

"A pirataria é efetivamente a maior plataforma VOD (vídeo on demand) do mundo", diz Andy Chatterley, da MUSO.

"Não há tendências de plataforma, tendências de custo, tendências de acesso. Consegue-se perceber o que as pessoas realmente querem ver", nota.

Uma vez que eliminar a pirataria não é realista, talvez o objetivo mais importante para o setor seja garantir que ela não se normalize.

"Fizemos um grande progresso para torná-la menos fácil", diz McCoy.

“Se as pessoas estão dedicadas a infringir a lei, irão fazê-lo. Mas deve ser uma atividade marginalizada, não normalizada", explica.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.