'Se um dia alguém, perguntar por ele', poderemos dizer que foi o responsável pelo melhor resultado de sempre de Portugal no Festival Eurovisão da Canção. Pelo menos, é isso que se espera - nas casas de apostas online, nas votações e nas redes sociais, Salvador Sobral, com "Amar pelos Dois", é um dos cinco favoritos à vitória. Mas, tal como no futebol, prognósticos... só no fim do jogo: a final decorre este sábado, a partir das 20h00, em Kiev, na Ucrânia.

Salvador Sobral será o 11º primeiro artista a subir ao palco da Eurovisão - antes de se ouvir "Amar pelos Dois" no Centro Internacional de Exibições, vamos ver as atuações da Polónia, Bielorrússia, Áustria, Arménia, Holanda, Moldávia, Hungria, Itália e da Dinamarca.

Os finalistas da Eurovisão são os 20 países selecionados em duas semifinais (Primeira semifinal: Portugal, Moldávia, Azerbeijão, Grécia, Suécia, Polónia, Arménia, Austrália, Chipre, Bélgica; Segunda semifinal: Bulgária, Bielorrússia, Croácia, Hungria, Dinamarca, Israel, Roménia, Noruega, Holanda e Áustria), os "Cinco Grandes" (França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido) e o país anfitrião, a Ucrânia.

A última vez que Portugal competiu numa final do Festival Eurovisão da Canção foi em 2010,  com o tema "Há Dias Assim", interpretado por Filipa Azevedo. A melhor classificação portuguesa no concurso foi um sexto lugar em 1996, com a canção “O meu coração não tem cor”, interpretada por Lúcia Moniz.

Salvador Sobral: A aposta na simplicidade 

Com a canção “Amar pelos Dois”, Portugal regressa à Eurovisão, onde se estreou em 1964, após um ano de ausência. A melhor classificação portuguesa no concurso foi um sexto lugar em 1996, com a canção “O meu coração não tem cor”, interpretada por Lúcia Moniz. A última vez que Portugal competiu numa final do Festival Eurovisão da Canção foi em 2010.

Em entrevista à RTP3, Salvador Sobral revelou que Luísa Sobral, a sua irmã e compositora de "Amar Pelos Dois", escreveu duas canções para o Festival da Canção. "Mandou-me duas canções. Mandou-me esta e mandou-me outra e disse-me: esta remete mais às canções dos anos 1960 do Festival da Canção. E eu gostei sempre mais desta. E o meu pai disse 'esta é que é'. Não é tão festivaleira, mas esta é mais bonita", contou, sublinhando que o tema não o compromete. "Podia estar num disco meu ou dela. É uma coisa bonita, simples, genuína e espontânea. Tem tudo de bom esta canção", defende o músico de 27 anos.

Os dois grandes rivais de Salvador

De acordo com as casas de apostas online, o grande adversário de Salvador é Francesco Gabbani. "Occidentali's Karma", canção do representante italiano é quase um oposto de "Amar pelos Dois" e enquadra-se mais no estilo a que a Eurovisão nos habituou. Em palco, o cantor tem ainda um macaco em palco - segundo a imprensa italiana, o cantor inspirou- se no livro "The Naked Ape" ("O Macaco Nu", em tradução livre), de Desmond Morris.

Em Itália, a canção conquistou o disco de ouro em apenas uma semana e passou os 112 milhões de visualizações no YouTube.

O segundo grande rival de Salvador Sobral é um jovem de 17 anos. Kristian Kostov está em terceiro lugar nas casas de apostas com o tema "Beautiful Mess".

Porém, segundo as casas de apostas online, Salvador Sobral é o grande favorito à vitória. No site Eurovision World, que faz uma média de várias casas de apostas, Portugal encontrava-se desde 6 maio no segundo lugar do pódio, tendo destronado esta sexta-feira, 12 de maio, a Itália, que estava do primeiro lugar desde 18 de fevereiro.

No mesmo site é perguntado aos internautas quem irá vencer o festival: Salvador Sobral lidera com mais de 15 mil votos (20%). Em segundo lugar está Itália com 11 mil votos (15%), seguida da Bélgica,  que regista seis mil votos (8%).

"Amar pelos Dois" conquista imprensa internacional e redes sociais

De acordo com um estudo da Cision, em apenas três dias – 9, 10 e 11 de maio – o cantor de "Amar pelos dois" foi citado em 1.641 notícias em todo o mundo, contabilizando apenas os meios online e excluindo os artigos publicados em Portugal.

À conquista da Eurovisão: Salvador Sobral tenta hoje a passagem à final

Segundo o estudo, foi na Alemanha que o cantor português conquistou mais atenções: no total, foi referenciado em 382 notícias, quase o dobro da Espanha, o segundo país onde Salvador foi mais falado. "Apesar de a maior parte das menções nos sites germânicos ter sido uma genérica alusão à sua passagem à final, houve alguns meios que aprofundaram a sua análise, descrevendo 'Amar pelos dois' como 'uma íntima balada, cheia de sentimento', que se tornou ainda 'mais melancólica e sensual' na voz do português", explica a Cision.

A canção composta por Luísa Sobral  despertou a atenção do jornal El País. "De repente, acontece um milagre no mundo estereotipado da música televisiva", pode ler-se no início do artigo do diário espanhol, publicado a 16 de abril. O jornal espanhol frisa ainda que o" mundo previsível da música pop" precisa de mais artistas como Salvador Sobral.

O jornal The Sun também dedicou um artigo ao cantor português. "Parece que o talento corre na família de Salvador uma vez que a sua irmã, Luísa Sobral, também competiu na seleção nacional [do programa 'Ídolos'] tendo ficado em terceiro lugar na primeira semifinal", frisa a publicação, acrescentando que Portugal é um dos principais candidatos à vitória da Eurovisão.

Nas redes sociais, os números também falam por si.  Na página oficial no Facebook, a organização da Eurovisão partilhou excertos das várias atuações das duas semifinais. Para analisar o impacto dos vídeos partilhados na rede social, Marco Almeida criou uma ferramenta que compara o número de partilhas, reações e comentários entre cada post na página do evento.

Na sexta-feira de manhã, 12 de maio, Portugal liderava o top. No total, os 30 segundos da atuação de Salvador Sobral na primeira semifinal receberam mais de 56 mil reações (gosto/ adoro/ riso/ surpresa/ tristeza/ ira) e mais de 24 mil partilhas. Contabilizando apenas as reações, em segundo lugar está a Albânia. com aproximadamente 17 mil.

No número de partilhas, atrás de Portugal está a Moldávia, que também irá marcar presença na final, com 2700. [Veja aqui todos os dados]

Comparando as duas semifinais, "Amar pelos Dois" continua a ser a canção a conquistar mais 'gostos' no Facebook, seguida pelo tema da Hungria (23 mil e 500).

No Twitter, a hashtag #salvadorable foi usada em mais de dois milhões e 700 mil comentários, de acordo com os dados fornecidos pela pesquisa no site Keyhole.

Num comunicado divulgado esta sexta-feira, 12 de maio, a multinacional tecnológica Google referiu que, “segundo as pesquisas no [motor de busca] Google, Portugal é o país mais pesquisado entre todos os países participantes no Festival da Eurovisão 2017”.

No ranking divulgado pela Google, o segundo país mais pesquisado, dos finalistas do concurso, é a Austrália e o terceiro a Bélgica. Já Itália surge em sétimo lugar.

A história de Portugal na Eurovisão

Este ano assinala-se a 62.ª edição do concurso, no qual Portugal participou a primeira vez em 1964, tendo entretanto falhado cinco edições (em 1970, 2000, 2002, 2013 e 2016).

Das 48 canções portuguesas que concorreram ao Festival da Eurovisão, nove ficaram nos dez primeiros lugares, tendo um sexto lugar, em 1996, sido a melhor classificação de sempre. Este ano, esse recorde pode ser quebrado, a avaliar pelas apostas que há vários dias colocam Portugal como favorito a ocupar o segundo lugar do pódio.

A melhor classificação portuguesa num Festival da Eurovisão foi obtida por Lúcia Moniz, em 1996, com a música “O meu coração não tem cor”, tendo esta sido também a última vez que Portugal ocupou um lugar no top 10.

A primeira vez foi em 1971, com a música “Menina do Alto da Serra”, interpretada por Tonicha, a conseguir alcançar um 9.º lugar. Nos dois anos seguintes, Portugal manteve-se nos 10 primeiros lugares com “A Festa da Vida” (7.º lugar), interpretada por Carlos Mendes, e “Tourada” (10.º), cantada por Fernando Tordo.

Ainda na década de 1970, Portugal conseguiu um 9.º lugar com “Sobe, Sobe, Balão Sobe”, interpretada por Manuela Bravo, em 1979. Um ano depois, já nos anos 1980, José Cid conseguia alcançar o 7.º lugar do pódio, com “Um Grande, Grande Amor”.

Na década de 1990, além do 6.º lugar de Lúcia Moniz, Portugal ocupou três vezes lugares no top ten: em 1991, com Dulce Pontes e “Lusitana Paixão” (8.º lugar), em 1993, com Anabela e “A Cidade (até ser dia)” (10.º), e, em 1994, com Sara Tavares e “Chamar a Música” (8.º).

Entre as piores classificações portuguesas de sempre no Festival Eurovisão da Canção estão três últimos lugares: António Calvário com “Oração”, que obteve zero pontos, em 1964, Paulo de Carvalho com “E Depois do Adeus”, com três pontos, em 1974, e Célia Lawson com “Antes do Adeus”, com zero pontos, em 1997.

Há vários anos que Portugal não conquistava a oportunidade de competir na final do concurso. A última, foi em 2010 com “Há Dias Assim”, cantada por Filipa Azevedo.

Ao longo dos anos, as músicas que representaram Portugal foram em larga maioria cantadas em português, com exceção de três anos: 2005, 2006 e 2007.

Em 2005, Portugal concorreu pela primeira vez com uma música cantada parcialmente em inglês. Em “Coisas de Nada (gonna make you dance)”, interpretada pela ‘girlsband’ Nonstop, o refrão era em inglês.

No ano seguinte os 2B (Rui Drummond e Luciana Abreu) levaram ao festival “Amar”, uma música cantada maioritariamente em inglês. Já a música que representou Portugal no concurso em 2007, “Amar”, de Sabrina, tinha uma letra maioritariamente em português, mas com algumas frases em francês, espanhol e inglês.