No Portugal totalitário de "Pátria", Tomás Alves é o rosto da resistência e idealismo (ainda) possíveis face ao domínio da extrema-direita, iniciando um trajeto que o vai opor à personagem conturbada de Rafael Morais.

Pouco antes de se juntar a este grito pela liberdade na forma de thriller (com contornos de ficção científica), o ator foi Salgueiro Maia em "O Implicado" (2022), de Sérgio Graciano, num regresso a uma revolução real, a do 25 de Abril. E 15 anos depois das primeiras experiências no cinema - através da participação em "Do Outro Lado do Mundo", de Leandro Ferreira, e do papel protagonista em "Amor de Perdição", de Mário Barroso, onde foi um Carlos da Maia contemporâneo -, volta a colaborar com Bruno Gascon, que o dirigiu em "Sombra" (2020).

Numa altura em que está também de volta aos palcos, falou ao SAPO Mag do filme que o realizador descreve como uma "distopia realista" e que pode ser visto nas salas de cinema.

Pátria
Pátria

SAPO Mag - De que forma se envolveu em "Pátria"? O que o motivou neste projeto?
Tomás Alves - Foi numa altura em que eu estava a fazer muita coisa ao mesmo tempo e, felizmente, consegui conciliar disponibilidades. Já foi num processo muito em cima do acontecimento. Já tinha trabalhado há muitos anos com o Bruno e com a Joana [Domingues, produtora], na altura em que os conheci. E mais recentemente, no "Sombra", também fiz um papel. E pronto, fiquei logo com vontade de fazer isto porque já sabia, pelo menos pela experiência do "Sombra", que eles têm um aspeto muito positivo: deixarem-nos em residência artística todos juntos durante o processo de rodagem. E isso é uma grande mais-valia, que nos põe mais embrenhados no trabalho.

Como se preparou para um filme passado numa realidade distópica?
O meu processo é sempre muito intuitivo. Depois da leitura do guião e de perceber o que é que despoleta em mim, tento, em conjunto com os realizadores, chegar àquilo que é suposto contarmos, o que é que queremos passar. E, de facto, este filme tem uns contornos que me obrigaram a usar ainda mais a imaginação, a pensar como é que é viver sem liberdade, como é que é estar na pele desta pessoa que acaba por não ter direitos nenhuns, e como é que isso a vai corroendo por dentro.

Tomás Alves
Tomás Alves créditos: Leandro Gomes

O que foi mais desafiante nesta personagem face a papéis anteriores?
O equilíbrio nesta dualidade, porque os ideais dele sempre foram os mesmos, mas sempre foram abafados, inevitavelmente. Tentei procurar a sobrevivência e a paz no meio disto sem nunca deixar de ter aquela revolta latente dentro dele. Construir essa linha até à explosão final foi o processo mais difícil de equilibrar.

Esta não foi a primeira vez que trabalhou com Bruno Gascon, como mencionou. O que mais destacaria nesse processo colaborativo?
Acho que nos compreendemos bem, sem precisar de dizer muita coisa. Durante a rodagem, muitas vezes o tempo não chega para tudo, então acho que conseguimos criar uma linguagem não verbal para nos compreendermos um ao outro.

Pátria
Pátria

Costuma ter vários projetos em simultâneo. Além de "Pátria", onde poderemos vê-lo nos próximos tempos?
Estou a fazer outro filme, ainda não sei o que posso dizer. É uma personagem histórica que também lutou um bocadinho contra um certo sistema e essa é uma parte que não é muito conhecida do público. É um papel que me exigiu engordar 12 quilos, entre outras coisas. Portanto, tem sido um processo bastante intenso. E futuramente, para o ano que vem, pelo menos, tenho já alguns espetáculos de teatro falados. Vou repor o espetáculo "Pulmão", que fiz com a Benedita Pereira durante o ano passado, em vários sítios. Foi um espetáculo que correu muito bem, que nos dá muito prazer fazer, e estou muito contente por voltar a mergulhar nesse processo. Vou também fazer uma substituição no "Noite de Reis", do Ricardo Neves-Neves, no Teatro da Trindade. E também tenho outro espetáculo mais para o final do ano, portanto vai ser um ano com mais teatro para mim.

Que razões apontaria para ver "Pátria", em especial no cinema?
Acho que nunca é demais falar sobre a liberdade, tendo em conta tantos acontecimentos a nível mundial nos tempos que correm. Torna-se ainda mais pertinente sublinhar a importância dos direitos humanos. Portanto, acho que é meio caminho andado para as pessoas se interessarem por esta trama.

TRAILER DE "PÁTRIA":