Quarta-feira foi muito intensa para Terry Gilliam.
O dia começou com as notícias de que tinha sido hospitalizado durante o fim de semana por sofrer desde um AVC a um mal-estar, continuou com a Amazon a abandonar os planos para distribuir "O Homem que Matou D. Quixote" nos EUA e terminou com a decisão do Tribunal de Paris a autorizar a exibição do filme na sessão de encerramento do Festival de Cannes, rejeitando a ação judicial contra o festival francês interposta pelo produtor português Paulo Branco.
Após o silêncio, o realizador deu literalmente sinais de vida nas redes sociais: "Após dias de descanso e orações aos deuses, estou recuperado e novamente bem. Tal como 'O Homem que Matou D. Quixote'! Estamos judicialmente vitoriosos! Iremos ao baile, vestidos como o filme de encerramento no Festival de Cannes! 19 de maio. Obrigado por todo vosso apoio. #QuixoteVive"
A acompanhar estão duas fotografias, a primeira com Gilliam em "meditação" a usar uma t-shirt a dizer "Ainda não estou morto" e outra alusiva ao filme.
Estes são os mais recentes desenvolvimentos de uma disputa legal por causa dos direitos do filme, rodado em Espanha e em Portugal com elenco internacional.
O projeto chegou a contar com produção de Paulo Branco, anunciada em 2016, mas Terry Gilliam acabou por não concretizar a parceria, alegadamente por problemas de financiamento.
Terry Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, de Paulo Branco, mas em 2017 o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido.
Segundo Paulo Branco, a exploração e utilização das imagens do filme não pode existir sem o acordo prévio da Alfama Films.
"O Homem que Matou D. Quixote" é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.
Em Portugal, o filme não escapou à polémica, por causa de supostos estragos causados durante filmagens no Convento de Cristo e que levaram a Direção-Geral do Património Cultural a abrir um inquérito.
Independentemente da decisão de hoje sobre Cannes, está ainda em curso um processo judicial que deverá ter decisão a 15 de junho no Tribunal de Recurso em Paris, sobre a possível indemnização de Terry Gilliam ao produtor português, por causa de direitos sobre o filme.
"Continuo a ter os direitos sobre o filme e será difícil que a situação seja revertida. A decisão de 15 de junho, que foi comunicada, não resolve nada. Há ainda um processo no Reino Unido", disse Paulo Branco à agência Lusa em abril passado.
Certo é que os atuais produtores do filme mantêm os planos de distribuição internacional de "O Homem que Matou D. Quixote", nomeadamente em 300 salas em França e também na China.
Em Portugal, onde a estreia deverá ser assegurada pela NOS, não há ainda data oficial anunciada.
"O Homem que Matou D. Quixote" uma coprodução internacional entre vários países, nomeadamente Espanha, França e - em produção minoritária - Portugal, com um orçamento de cerca de 16 milhões de euros.
Esta adaptação livre de "D. Quixote", de Miguel Cervantes, cuja narrativa no filme oscila entre os séculos XVII e XXI, conta com interpretações de Jonathan Pryce, Adam Driver, Olga Kurilenko e a atriz portuguesa Joana Ribeiro, entre outros.
O 71.º Festival de Cinema de Cannes começou na terça-feira no sul de França.
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