Curtis Hanson, o realizador de "L.A. Confidencial", a sombria história do crime, corrupção na polícia e glamour na Los Angeles da década de 1950, morreu aos 71 anos na terça-feira.
O Departamento de Polícia de Los Angeles informou que os agentes foram chamados à residência do cineasta e constataram a morte por "causas naturais".
O seu filme mais famoso, aclamado como um dos melhores de 1997, cruzava as vidas de três polícias (Kevin Spacey, Russell Crowe e Guy Pearce), uma prostituta (Kim Basinger), um chulo milionário (David Strathairn), um jornalista de escândalos sem preconceitos (Danny DeVito) e um comissário de polícia ético (James Cromwell).
No ano do domínio de "Titanic", foi nomeado para nove Óscares e ganhou dois: Curtis partilhou com Brian Helgeland o prémio de Melhor Argumento Adaptado (do clássico policial da autoria de James Ellroy) e Kim Basinger foi considerada a Melhor Atriz Secundária.
Foi o seu triunfo artístico e nada na sua carreira o fazia prever.
Nascido em 1945, Hanson começou como fotógrafo, onde tirou por exemplo as imagens de uma jovem Faye Dunaway que lhe valeram um teste para "Bonnie & Clyde" (1967), com o qual ela se tornou uma estrela.
A entrada no cinema foi como argumentista de "The Dunwich Horror", um filme de terror de 1970 que por cá recebeu como título "O Altar do Diabo". Dois anos mais tarde escrevia e realizava outro pequeno título independente no mesmo género, "Sweet Kill", sobre um psicopata que amava as mulheres literalmente até à morte.
O nível cinematográfico não melhorou com "The Little Dragons" (1979), onde especialistas em Karaté tentavam salvar uma rapariga raptada por uma mãe e os seus dois filhos psicopatas.
Mudou de registo com "Só se Perde Uma Vez", uma comédia com Tom Cruise que teve o azar de ser lançada no mesmo ano (1983) em que o ator triunfou com "Negócio Arriscado".
Regressou ao território do thriller com "Janela de Quarto de Cama" (1987), que juntava Elizabeth McGovern e Isabelle Huppert com... Steve Guttenberg, e "Influência Fatal" (1990), com Rob Lowe e James Spader, que tem hoje algum estatuto de filme de culto e era muito inspirado por Alfred Hitchcock (principalmente "O Desconhecido do Norte-Expresso").
Pelo meio, continuava a escrever e vale a pena destacar os argumentos humanistas para "O Cão Branco" (1982), que é agora considerado um dos melhores filmes de Samuel Fuller, e "Never Cry Wolf / Os Lobos Não Choram" (1983).
O sucesso de "A Mão Que Embala o Berço" em 1992, sobre uma mulher (Rebecca de Mornay) que depois de perder a família se decide vingar da mulher que julga responsável pelo que aconteceu (Annabella Sciorra), abriu-lhe as portas para "Rio Selvagem" (1994), que acompanhava uma família (Meryl Streep, David Strathairn e Joseph Mazzello) que decidia passar um apaixonante fim de semana em contacto com a natureza que mudava radicalmente ao encontrarem dois homens de aparência inofensiva (Kevin Bacon e John C. Reilly) que eram afinal perigosos assassinos em fuga.
O filme foi uma desilusão comercial e mais do que o trabalho de Hanson a filmar a tensão de descer o perigoso e rápido rio, o que chamou a atenção foi a mudança de registo de Streep, que abandonava aqui os papéis mais intelectuais que a tornaram famosa para surgir como uma especialista em 'rafting'.
A aclamação de "L.A. Confidencial", que continua a ser mais conhecido pelo original "L.A. Confidential", deu-lhe aura de autor e fê-lo conquistar o respeito de Hollywood, que saiu reforçado com "Wonder Boys - Prodígios" (2000), onde Michael Douglas tinha um dos seus melhores papéis como um problemático professor de inglês que se tornava mentor da personagem de Tobey Maguire.
Seguiu-se o célebre "8 Mile" (2002), um retrato da vida de um grupo de jovens para quem o hip-hop era o único escape de uma Detroit decadente, inspirado em parte pela vida do seu protagonista, Eminem, a fazer uma surpreendente estreia na representação e que ganhou o Óscar de Melhor Canção.
No mesmo ano, apareceu pela primeira e única vez como ator: um pequeno papel como marido da personagem de Meryl Streep no célebre "Inadaptado", de Spike Jonze.
Os resultados dos dois filmes seguintes que realizou não foram tão celebrados: "Na Sua Pele" (2005) foi uma comédia dramática que desiludiu sobre a relação de duas irmãs (Cameron Diaz e Toni Collette) com a avó (Shirley MacLaine); e "Um Golpe de Sorte" (2007) era um drama demasiado pesado sobre um jogador de poker (Eric Bana) a tentar conciliar um torneio em Las Vegas com muitos problemas pessoais (representados pelas personagens de Robert Duvall e Drew Barrymore).
Antes de se tornar moda, fez uma mudança em 2011 para o pequeno ecrã para assinar com o canal HBO o telefilme "Demasiado Grande Para Falhar", sobre a ainda recente crise financeira que se abateu sobre Wall Street e a incapacidade política de Washington. Nomeado para muitos prémios, no elenco estavam James Woods, William Hurt, Paul Giamatti e muitos outros.
Em 2012, começou a filmar "Realizar o Impossível", um 'biopic com Jonny Weston e Gerard Butler sobre o surfista Jay Moriarity, mas foi obrigado a abandonar, sendo substituído por Michael Apted.
Na época, foram avançadas razões de saúde não especificadas, mas sabe-se agora que sofreu de Alzheimer nos últimos anos de vida.
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