Num futuro distante, em que a Terra só tem duas área habitáveis, o operário Douglas Quaid tenta viver a experiência de ser um agente secreto através de implantes de memória, quando descobre que afinal tudo aquilo que julgava ser o seu passado pode ser já uma mentira.
«Desafio Total» recria o
filme homónimo de 1990 com
Arnold Schwarzenegger, sendo ambos adaptados do conto de Philip K. Dick «We Can Remember it for you Wholesale».
Colin Farrell é o novo protagonista da versão realizada por
Len Wiseman e falou com o SAPO com a franqueza que sempre lhe foi reconhecida no contacto com a imprensa: por exemplo, no mesmo encontro, quando um jornalista alemão lhe perguntou se iria fazer outra pausa no seu trabalho no cinema como sucedeu em 2005, o ator respondeu: «se continuar a conseguir afastar-me do whisky e da cocaína, não».
«Remake» do filme ou nova adaptação do livro?
Isso é tudo semântica: «remake», reinvenção, recriação, reimaginação.... No fundo, é muito simples: há uma história curta escrita pelo Philip K. Dick que deu origem a um filme em 1990 e que agora dá origem a outro, que é feito a partir dessa história e do primeiro filme. Não sei qual é a melhor definição para o que fizemos, mas a verdade é que a nossa versão vai numa direção completamente nova.
As diferenças entre os dois «Desafio Total»
Eu conheço muito bem o filme original, vi-o umas quatro ou cinco vezes ao longo da vida, e revi-o antes de fazer esta versão. E é um filme mesmo bom, e muito divertido. As pessoas dizem que os efeitos envelheceram um pouco, mas eu ainda os acho bestiais. O nosso «Desafio Total» não tem o humor do primeiro, é mais sombrio. Aliás, tem um tom tão diferente que eu não senti que nos estivessemos a repetir ou a imitá-lo, mesmo estando a usar o mesmo conceito, o da capacidade de ter implantada a memória de uma experiencia sem alguma vez a ter tido, que é uma ideia retirada do conto e que serve de plataforma aos dois filmes.
A originalidade dos «remakes»
Era muito aparente para mim quando li o argumento que o Len Wiseman não queria fazer uma cópia. Ele tem um ego, eu tenho um ego, nenhum de nós quer fazer uma coisa repetida, já é difícil passar por cima da ideia de um «remake», porque as pessoas pensam logo «que aborrecido, façam qualquer coisa nova, Hollywood já nao tem ideias». Mas se quisermos ser literais só há três historias originais no mundo e tudo o resto são derivados. Já vi filmes que não são «remakes» e que não têm originalidade nenhuma, parece que já os vimos antes, e já vi outros que são «remakes», como «A Mosca», que são completamente novos e individualizados, devido à arte e ao olhar do realizador que os assina.
A ligação a «Relatório Minoritário»
Tanto o «Desafio Total» como o
«Relatório Minoritário» são adaptados de histórias do Philip K. Dick, portanto ambos têm visões do futuro inspiradas pela obra do mesmo criador. Mas como as histórias em formato literário estão abertas a interpretações, cada realizador filtrou-as e expandiu-as através da sua sensibilidade pessoal. Tanto um como outro têm futuros que nos são reconhecíveis, que parecem uma extensão daquilo que já existe e não algo de completamente novo. No «Relatório Minoritário» havia o ecrã táctil, que hoje é uma realidade, neste temos telemóveis implantados nas mãos. A tecnologia está a avançar de forma imparável, é a nova fronteira, há evoluções incríveis todos os meses, que ainda não são para consumo de massas mas que já são reais.
Fazer cenas de ação
Adoro fazer cenas de ação, é muito divertido fazer o máximo que se puder, saltar de janelas e partir vidros. E é muito bom trabalhar com duplos, nas mãos dos quais pomos literalmente a nossa vida. Aquilo é literalmente «boys with toys», eram as brincadeiras que eu fazia aos oito anos no quintal.
E nos filmes eu sou bom com armas, o que é deprimente, porque não tenho qualquer uso para elas na minha vida normal, odeio-as. E também sou bom com cavalos. Mas para fazer o «Desafio Total», trabalhei de forma muito consistente durante três ou quatro meses, cinco dias por semana, a correr, a levantar pesos e tudo isso. Há um passado possível da personagem, que o filme aflora, e que indica que ele terá tido um passado militar. E eu sabia que ia ser uma rodagem muito física, por isso preparei-me bem antes.
Filmes em 3D
Se o «Desafio Total» tivesse sido feito a três dimensões, acho que não o teria feito. Sei que houve conversas nesse sentido, mas ainda bem que não se chegou a avançar. Acho que em certos filmes até fará sentido, o
«Avatar» foi espectacular em 3D e
«A Caverna dos Sonhos Perdidos» também. Mas pessoalmente, não preciso daquilo. Se a história tiver força suficiente, o 3D é irrelevante.
Erros do passado
Se pudesse apagar alguma coisa da minha memória, seria a audição que fiz para os Boyzone em 1993 ou 1994. Cantei o «Careless Whisper», com calças de cabedal num quarto de hotel. Ainda bem que não gravaram aquilo, foi muito embaraçoso. Eu nunca poderia ser cantor, nunca infligiria ao mundo uma carreira musical. Mas toquei um bocadinho no
«Crazy Heart», só que foi uma coisa pequenina.
O sucesso de «Em Bruges»
Foi uma surpresa maravilhosa, que até me valeu um Globo de Ouro. O [realizador]
Martin McDonagh é excepcional mas imprevisivel. Acabei de fazer outro filme com ele, o «Seven Psycopaths», e não sei o que diabo esperar. Estive lá mas não faço ideia do que vai sair dali. As coisas do Martin são sempre hilariantes, absurdas, negras, mas também cheias de esperança. Mas o novo filme é um pouco diferente do
«Em Bruges», este passa-se na América e eu sou a única personagem irlandesa. Terminámos a rodagem em Janeiro e eu saí dali diretamente para o «Desafio Total», foi muito cansativo.
Veja
aqui as entrevistas do SAPO a Len Wiseman e a
Kate Beckinsale. Não perca amanhã a conversa com Jessica Biel.
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