Um documentário sobre Eunice Muñoz em comemoração dos seus 80 anos de carreira, realizado a pedido da atriz como passagem de testemunho à neta, estreia-se no dia 4 de novembro em mais de 30 salas do país.
“Decidi que era altura de passar o testemunho e ver continuado o sonho do teatro pela minha neta Lídia [Muñoz], testemunho que passo orgulhosamente e que quis ver registado pelo cinema”, disse Eunice Muñoz, durante uma apresentação do filme à imprensa esta terça-feira.
Realizado por Tiago Durão, “Eunice ou carta a uma jovem atriz” terá uma antestreia, a 3 de outubro, e estará na secção Heart Beat do festival DocLisboa, que acontece entre 21 e 31 desse mês.
Posteriormente estreará, pelo menos, em 32 salas de cinema distribuídas por todo o território de Portugal continental e ilhas, podendo algumas outras virem ainda a “ser fechadas até 4 de novembro”, revelou o realizador.
O filme revisita a vida de Eunice Muñoz através das suas memórias privadas, oferecendo ao público uma visão do lado humano da atriz, através da entrada na sua casa, que abre caminho a uma viagem pelos últimos 80 anos, que começaram no velho palco do Teatro Nacional.
O documentário – ou “lugar de memória”, como Tiago Durão prefere chamar-lhe – revela a cumplicidade natural entre Lídia e Eunice, abrindo portas à sua intimidade e aos seus rituais domésticos.
O início do filme é uma sequência de imagens sob a voz do ator Ruy de Carvalho, que faz o prólogo do filme, seguida da música de Maria João Pires, a tocar a sonata n.º 14 de Beethoven.
“O filme foi como uma bola de neve e foi-se fazendo”, explicou Tiago Durão, que a dada altura da sua realização convocou Luís Miguel Cintra para dar voz a um poema de António Barahona, enquanto são passadas em retrospetiva imagens de Eunice mulher, com a família, e da Eunice atriz, nos palcos e no cinema.
Em “Eunice ou carta a uma jovem atriz”, que começou a ser feito em outubro do ano passado, Tiago Durão procurou filmar a atriz como ela é: “uma mulher normal como todas as outras, mas que é atriz, não por escolha apenas, mas por imposição do teatro, e penso que conseguiu filmar-me em casa como mulher e em palco como atriz”, considerou Eunice Muñoz.
“Acompanhei todas as fases do filme, assisti a todas as etapas do trabalho e achei que não podia existir melhor lugar de memória, porque é assim que eu sou, porque é assim que eu quero que guardem uma memória de mim”, acrescentou.
Lídia Muñoz, também ela atriz, respondeu à avó não saber como é que se recebe “um testemunho destes, tão pesado e tão importante” e confessou ter “algum medo de não estar à altura” desse testemunho.
“Cinema é o registo próximo de um lugar onde houve vida”, afirmou, acrescentando, sobre este filme, que nele vê a avó como a vê todos os dias.
Tiago Durão confessou que quando começou a filmar este documentário achou que não seria possível a “transparência exigida ao documentarista” e preferiu “levar a cabo uma visão desconstrutiva sobre a figura de Eunice”.
“Habituados a ouvir falar de Eunice como atriz, esquecemos de que existe, terrena e real, uma outra Eunice, mãe, mulher, avó, amante, foi essa que quis filmar”, acrescentou.
Por isso, o cineasta quis mostrar a atriz rodeada das memórias que guarda, a sua casa, e quis mostrá-la ao lado de Lídia, “inseparáveis” e a quem escolheu para passar o testemunho.
Todo o dinheiro conseguido com a comercialização do filme será doado à Casa do Artista, uma decisão conjunta de Eunice Munõz e da equipa de produção.
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