Nesta sexta edição, o
Panorama pretende refletir sobre o modo como os filmes são visíveis depois de serem feitos, explicou à agência Lusa uma das programadoras,
Margarida Miranda. «A ideia é pensar a vida de um filme depois da produção, porque a visibilidade das obras também é a sua força», referiu.

Para Margarida Miranda, «o momento da exibição [de cinema em Portugal], hoje em dia, é desregrado», o documentário não tem a mesma visibilidade em sala que um filme de ficção, por isso este é o momento para tentar perceber «como se pode fazer ver, e ver melhor».

O Panorama irá exibir, no cinema São Jorge e na Cinemateca, 75 filmes, entre primeiras obras e estreias, e dará uma oportunidade rara de visualizar filmes do cinema mudo português, dos arquivos da Cinemateca.

Na abertura serão exibidas, na sexta-feira, no cinema São Jorge, as curtas-metragens
«Nazaré, Praia de Pescadores» (1929), de
Leitão de Barros,
«Alfama, a velha Lisboa» (1930), de João de Almeida, ambas com música ao vivo de Noiserv, projeto de David Santos. Na sessão passará também
«Douro, Faina Fluvial» (1931), de
Manoel de Oliveira, com música de Luís de Freitas Branco.

Sobre a programação, Margarida Miranda referiu que «há muitas pessoas a filmarem a proximidade», as pequenas histórias, mas não há ainda muita produção «sobre a crise, sobre a atualidade ou sobre a indignação».

«O momento é isso, é tão forte, a contemporaneidade está a esmagar-nos, a atualidade está em cima dos nossos ombros, mas talvez essa também seja dificuldade para a filmar», referiu.

Um dos poucos filmes que falam diretamente da atualidade é a curta-metragem
«Sociedade do espetáculo», de Ruy Otero e Bruno Cecílio, sobre a manifestação de 12 de março de 2012.

Do programa fazem parte também
«A Nossa Forma de Vida», de Pedro Filipe Marques, eleito melhor primeira obra do DocLisboa de 2011, e
«Alvorada Vermelha», de
João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata. Destaque ainda para
«Strokkur», de
João Salaviza, rodado na Islândia, e
«Em Trânsito», de
Solveig Norlund, sobre o escultor José Pedro Croft.

O Panorama vai ainda olhar para o passado, para o cinema mudo português até aos anos de 1930. «Fomos procurar os clássicos, os primeiros trabalhos de repórter, os operadores que eram caçadores de imagens», explicou a programadora, referindo aos registos muito curtos (menos de um minuto, alguns fotogramas) de Aurélio da Paz dos Reis, de 1896, de Manuel da Costa Veiga e João Freire Correia, de 1905 e 1907.

«Os primeiros filmes são de uma liberdade maravilhosa pela maneira de filmar, como se fazem as panorâmicas, aquilo que se tem vontade de mostrar é muito diferente. É um momento que não se repete até 1974», referiu.

Todos os filmes mudos que serão exibidos na Cinemateca serão musicados ao vivo pelo pianista Filipe Raposo.

A sessão de encerramento do Panorama, no São Jorge, será com
«Lisboa, Crónica Anedótica» (1930), de Leitão de Barros, com cenas da vida de Lisboa, musicadas ao vivo por Jorge Bruheim Quinteto.

@Lusa