Arturo (interpretado pelo próprio realizador, Pif) vive numa comunidade italiana na Nova Iorque nos anos 40. Ele é um pobre empregado de mesa apalermado, mas perdidamente apaixonado por Teresa – simplesmente a sobrinha do patrão e prometida ao filho do braço direito de ninguém menos que o mafioso Lucky Luciano.
Para resolver o problema só há uma solução: falar diretamente com o pai da moça – mas há um pequeno problema: ele está na Sicília! Só que, para sorte de Arturo, ele é confundido por um militar porque ao pedir água com o seu péssimo inglês ele diz “war” (guerra) em vez de “water” (água).
Esta "love story" serve como ponto de partida para o filme "Em Guerra por Amor", que garante boas risadas com o seu humor leve e bem construído mas, muito mais do que isso, aborda nas entrelinhas e com seriedade um tema fundamental da história da Segunda Guerra Mundial: o papel da máfia na ajuda às tropas americanas que desembarcaram no país para combater os comandados do ditador Mussolini.
Esse registo de comédia com temas sérios está na base do trabalho do cineasta, que no seu filme anterior (“A Máfia só Mata no Verão” – na tradução do italiano) tecia em tom aparentemente suave um comentário dramático sobre a brutalidade com que a existência da máfia entrelaçava-se com a vida dos sicilianos a todos os níveis – terminando com uma sentida homenagem aos juízes, advogados, policiais, políticos e outros que faleceram em combate contra a organização criminosa.
Rir para não chorar
O cineasta esteve em Lisboa há um ano, por ocasião da Festa do Cinema Italiano – momento em que o filme teve por cá a sua antestreia. O SAPO Mag encontrou-se com o ator e cineasta para fazer as perguntas mais pertinentes (a máfia contribuiu mesmo para o desfecho da Segunda Guerra Mundial em Itália?) ou duradouras – ou seja, por que é que os italianos são tão bons a fazer filmes onde abordam temas sérias em tons de comédias?
A esta última, ele responde: “Bom, está no sangue, é parte da nossa identidade, é como gostarmos de comer massa. Basta pensar que os criadores da 'commedia all’italiana', por exemplo, vieram todos do neorrealismo. É uma habilidade conseguirmos rir de nós próprios – embora às vezes seja contraproducente porque não conseguimos analisar os nossos problemas com mais seriedade porque estamos sempre a rir”.
Entre amigos: o Pentágono e a máfia
Quando à atuação da máfia no conflito mundial, Pif explica que “essa tese histórica realmente existe e é um conhecimento aceite amplamente na Sicília. Depois, na parte onde não há provas, aceita-se a lógica. Aliás, se eu tivesse dúvidas nem sequer teria feito o filme uma vez que, tal como o meu projeto anterior, eles são vistos nas escolas. Esta é uma prática comum da política externa americana, mas enquanto naquela época correu mal no resto do mundo, o pacto com os mafiosos deu certo, pois eles são muito fiéis em relação aos seus inimigos – sejam eles fascistas ou comunistas".
A máfia está em toda a parte
Por falar no filme anterior, A Máfia só Mata no Verão, vem novamente a questão da máfia à baila.
“Sendo eu um siciliano de Palermo é quase espontâneo, é natural contar aquilo que vi, abordar o contexto do lugar onde cresci. Há muitos filmes a contarem histórias de máfia, mas poucos feitos por pessoas que cresceram nos lugares onde ela atua. Acho importante que essas histórias sejam contadas por sicilianos. Por exemplo, no meu primeiro filme, abordei o tema de maneira diferente: é situado no meio da guerra das máfias, mas o conflito é visto pela perspetiva de um miúdo de dez anos”, esclarece.
“Love stories…”
Há uma última comparação necessária com o antecessor: uma “love story” no eixo do enredo.
“Pessoalmente não me interessa a parte romântica, mas faz parte da forma como muitas histórias são contadas no cinema italiano”, diz.
“O que acho bonito é pôr um simples homem no meio do contexto histórico de forma a poder mostrá-lo. Mas prefiro a mensagem política da obra. Eu mesmo sou muito mais romântico no filme do que na vida real”, conclui.
"Em Guerra por Amor" está em exibição em Portugal.
TRAILER.
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