"E.T. phone home.", "Beeeeeee... gooood", uma mágica viagem de bicicleta ao luar e a amizade inesquecível entre um rapaz e um extraterrestre que foi deixado para trás: trata-se, claro, de "E.T. - O Extra-Terrestre" e saiu da imaginação de Melissa Mathison, que tinha apenas 32 anos quando viu as suas palavras tocarem os corações e almas de milhões de espectadores, ficando associada a um filme que instantaneamente se tornou um dos mais amados da história do cinema.

A argumentista faleceu esta segunda-feira aos 65 anos, após uma longa doença que não foi revelada.

Steven Spielberg , que lhe atribuiu muita da responsabilidade pelo sucesso do filme que arrastou multidões no verão de 1982 e foi durante muitos anos o mais rentável de todos os tempos, recordou-a em comunicado como tendo "um coração que cintilou com generosidade e amor e ardeu de forma tão brilhante como o coração que deu a E.T.".

Nascida em Los Angeles em 1950, Mathison revelou-se em Hollywood com a adaptação do romance  "O Cavalo Preto", sobre a relação entre um cavalo e o seu jovem criador, que se tornou um sucesso comercial em 1979. No entanto, seria pelo seu segundo trabalho, um original, que se tornou muito mais conhecida e teve a única nomeação para os Óscares da sua carreira.

Reza a história que, aborrecido a filmar "Os Salteadores da Arca Perdida" na Tunísia, Steven Spielberg leu à amiga, que tinha ido visitar o então namorado Harrison Ford, o argumento de "Night Skies", um projeto falhado sobre extraterrestres que aterrorizavam uma família.

Esta, comovida com a sub-história envolvendo a amizade entre uma criança autista e Buddy, o único extraterrestre amigável que era abandonado na Terra, escreveu um primeiro rascunho intitulado  "E.T. and Me" em oito semanas que Spielberg considerou perfeito.

"Era um argumento que eu estava disponível para filmar no dia seguinte. Era tão honesto e a voz de Melissa fez uma ligação direta com o meu coração", recordou o cineasta no comentário disponível na edição em DVD, numa alusão ao facto de, após o traumatizante divórcio dos pais, ele próprio ter imaginado um amigo extraterrestre  que lhe fazia companhia.

Melissa Mathison, que foi casada com Harrison Ford entre 1983 e 2004, com quem teve dois filhos, escreveu posteriormente os argumentos dos filmes "O Rei da Evasão" (1982), do segmento dirigido por Spielberg em "No Limiar da Realidade" (1983) e "A Chave Mágica" (1995).

No início dos anos 1990, desenvolveu também "Kundun", altura em que conheceu e se tornou amiga do Dalai Lama e ativista da causa tibetana. O filme só chegou ao cinema pela mão de Martin Scorsese em 1997.

O seu último trabalho como argumentista, o primeiro em quase duas décadas, foi um reencontro com Spielberg para "The BFG", qu estreia já a 1 de julho de próximo ano.

Baseado num clássico de Roald Dahl, conta a história de uma rapariga que encontra um gigante de aspeto feroz que descobre ter uma alma gentil.

As semelhanças com a história que imortalizou não devem ser mera coincidência...