O realizador argentino Luis Ortega brinca às escondidas com as identidades em "El jockey", um filme que estreou, esta quinta-feira, na mostra competitiva do Festival de Veneza, e conta com Nahuel Pérez Biscayart no papel principal.

"El jockey" narra, em tom onírico, a transformação de um jóquei ao serviço de mafiosos em Buenos Aires. Dependente químico e atormentado, sofre uma queda durante uma corrida que o leva ao hospital, mas o acidente é, na verdade, o primeiro passo para colocar totalmente em causa a sua identidade.

Para se conhecer a si próprio e fugir dos assassinos, o protagonista foge do hospital e lança-se num passeio delirante por uma Buenos Aires com tons irreais.

"É um filme atravessado por muitas perguntas. Quando somos mais jovens, pensamos que haverá uma altura em que perceber algo [da vida], mas finalmente chegamos à conclusão de que não percebemos nada, mas ficamos mais tranquilos", explicou à imprensa Ortega, de 44 anos.

Como se a vida fosse um milagre

Mariana Di Girolamo, o realizador Luis Ortega, Nahuel Perez Biscayart e Ursula Corbero

Nada é simples, nem é o que aparenta ser neste filme com ares surrealistas e que conta com a participação do mexicano Daniel Jiménez Cacho, da espanhola Úrsula Corberó ("La Casa de Papel") e da chilena Mariana di Girólamo ("Ema").

"Caminhar pela cidade de Buenos Aires é uma experiência desesperadora, há muita gente muito bonita, muito louca", refletiu Ortega.

A capital argentina inspirou-o para uma história linear quando filmou "El ángel", baseada numa personagem verdadeira, um adolescente delinquente e assassino.

Esse filme foi o mais visto na Argentina em 2018 e aclamado com um prémio na secção Un Certain Regard no Festival de Cannes.

Antes, Ortega estreou-se aos 19 anos como argumentista e realizador de "Caja negra", que ganhou o Prémio Especial do Júri no Festival de Mar del Plata em 2002.

Para "El jockey", o realizador decidiu quebrar padrões.

É um filme sobre "a possibilidade de que não haja um centro nas pessoas, uma identidade, e apesar de tudo, divertir-se, como se a vida fosse um milagre. Uma personagem começa por ser um jóquei famoso, depois uma mulher, um bebé... sem rerceber o que está a acontecer", revelou.

Os atores afirmaram unanimemente que a rodagem foi uma revelação.

Luis Ortega "é um feiticeiro, um mago e muito mais. É a única pessoa com quem trabalhei mais de uma vez", confessou Nahuel Pérez Biscayart, que já trabalhou sob a sua direção em "Lulú" (2014).

"El jockey" é um dos dois filmes latino-americanos em competição pelo Leão de Ouro este ano, ao lado de "Ainda estou aqui", do brasileiro Walter Salles.

Vinte e um filmes concorrem este ano. O festival entregará os seus prémios no dia 7 de setembro.