Emanuel Nevado, 37 anos, vive há quatro anos em Bristol (Reino Unido), onde funcionam os estúdios Aardman, conhecidos sobretudo pelos filmes e séries de animação em 'stop-motion' com volumes em plasticina, como "Wallace & Gromit", "Ovelha Choné" e "A Fuga das galinhas".

"Qualquer pessoa que esteja no 'stop motion' tem o sonho de chegar à Aardman, porque é a melhor empresa de animação na Europa e tem um passado extraordinário. É um sítio bastante simples. As pessoas gostam muito do que estão a fazer e gostam de falar do que estão a fazer", resumiu Emanuel Nevado.

Para a longa-metragem "A idade da pedra", Emanuel Nevado juntou-se a uma equipa técnica de mais de duas centenas de profissionais para dar vida a marionetas de plasticina, de forma minuciosa e muito lenta.

"Trabalhamos com uma média de 04 a 06 segundos por semana durante dois anos. A muita gente, a primeira coisa que lhe ocorre é que é um trabalho de paciência, mas não é verdade. Normalmente os animadores desfrutam mais do processo do que do resultado final. A maior parte dos animadores que eu conheço não se vê com muita paciência. São pessoas meticulosas, perfeccionistas, obcecadas, mas são impacientes", disse o animador português.

Emanuel Nevado entrou para os estúdios Aardman como assistente de animador, depois de ter feito um curso em 'stop-motion' promovido pela empresa em Barcelona. Só mais tarde foi contratado para a quinta temporada da série televisiva "A ovelha choné" e, depois, como animador para "A idade da pedra".

Esta nova ficção, realizada por Nick Park, é uma comédia ambientada na pré-história e protagonizada por Dug, um homem das cavernas que tenta defender a sua tribo dos invasores da Idade do Bronze, num duelo que acontecerá num pré-histórico campo de futebol.

"É um filme sobre futebol. A certa altura estávamos a trabalhar no filme e percebemos que podia parecer que se fala do 'Brexit' [saída do Reino Unido da União Europeia], mas a verdade é que o Nick Park andava a escrever esta história há muito tempo. É um filme mais relacionado com o imaginário do Astérix do que com qualquer questão política atual", explicou Emanuel Nevado.

Depois de "A idade da pedra", Emanuel Nevado vai permanecer em Bristol para trabalhar na produção da segunda longa-metragem de "A ovelha choné", que deverá estrear-se em 2019.

Antes de chegar ao cinema de animação, Emanuel Nevado, leiriense, estudou violino, fez o curso de Musicologia, de Pintura e de Desenho.

Durante muitos anos deu aulas de música ao mesmo tempo que desenvolvia projetos pessoais em 'stop-motion'.

"Tinha a certeza que era aquilo que queria fazer. É uma arte muito musical, muito visual. E foi aí que acabei por ir fazendo 'stop-motion'. Depois fui para Barcelona e fiz a 'master' dos estúdios Aardman", explicou.

Emanuel Nevado conta regressar para Portugal dentro de cinco anos, "se as coisas mudarem" no modo como se faz cinema.

"É preciso dinheiro e saber usá-lo muito bem para fazer filmes, mais do que tentar enriquecer. É preciso fazer bom cinema. Não se pode viver só dos subsídios do Estado, é preciso conseguir patrocínios. Pode ser muito ingénuo, eu sei, mas a solução é fazer o melhor cinema possível com o dinheiro que se tem e o cinema de animação é um género muito caro de se fazer", disse.

"A idade da pedra" estreia-se em Portugal 'à boleia' do Monstra - Festival de Animação de Lisboa, no qual estarão o realizador Nick Park e o animador Emanuel Nevado, para encontros com o público.