A estreia mundial de uma versão feminista do clássico erótico francês "Emmanuelle" será esta sexta-feira no festival de cinema San Sebastián, onde o ator espanhol Javier Bardem receberá o seu honorário Prémio Donostia.
Dirigida pela realizadora francesa Audrey Diwan - vencedora do Leão de Ouro em Veneza, em 2021, por "O Acontecimento"-, o novo "Emmanuelle" apresenta-se como uma "exploração do prazer numa era pós #MeToo".
Sessenta e cinco anos após o lançamento do romance "Emmanuelle", da franco-tailandesa Emmanuelle Arsan, e 50 anos depois da estreia do filme com o mesmo título, dirigido por Just Jaeckin e protagonizado por Sylvia Kristel, a nova versão é diferente de ambas.
"Não adaptei o filme. A razão é simples: nunca o vi. Assisti a cerca de 20 minutos, só", explicou Diwan numa conferência de imprensa em San Sebastian, acrescentando que leu o livro.
De Banguecoque a Hong Kong
Protagonizado pela atriz francesa Noémie Merlant, e exibido em inglês, o filme contém alguns momentos picantes como na primeira versão, como a cena de sexo na casa de banho de uma avião.
No entanto, enquanto as aventuras sexuais da primeira Emmanuelle cinematográfica ocorriam em Banguecoque, agora decorrem num hotel cinco estrelas em Hong Kong.
O filme pode ser visto como a transformação de uma mulher, explicou Merlant, confessando identificar-se com Emmanuelle.
"Vi-me nela. No início, ela é uma mulher que não é dona de si, do seu corpo, que segue os padrões da sociedade e não sente prazer ou satisfação, é como um robô", contou a atriz de 35 anos.
“E então temos esta jornada com ela, esta história com ela, em que está realmente a tentar ser Emmanuelle, libertar-se e obter o prazer”, acrescentou.
Sobre o lugar que o erotismo pode ocupar hoje no cinema, defendeu a realizadora: “Ouvi muitas coisas sobre o #MeToo, a forma como vemos a nossa profissão e sobre o prazer. O que poderíamos ou não fazer. Mas o #MeToo cria liberdade. O facto de se falar tanto sobre a sexualidade antes de [fazer o] filme, em vez de a manter em segredo para [criar] um momento de constrangimento e tirar algo do ator, ou livrarmo-nos rapidamente de uma cena em que não sabemos realmente o que fazer. O ator tem o poder no set. O poder de Noémie Merlant, a liberdade que tem e a forma como ela própria aproveita essa liberdade são a força motriz do filme."
Bardem recebe uma homenagem adiada
A longa relação de Javier Bardem com o festival de cinema basco será celebrada, ao fim da noite, com a entrega do Prémio Donostia na cerimónia de gala de abertura.
Foi neste festival, em 1994, que ganhou o seu primeiro grande prémio, a Concha de Prata de Melhor Ator. No entanto, em 2023, não pôde receber o prémio honorário que leva o nome da cidade por causa da greve dos atores de Hollywood.
"Em 1994, tinha 25 anos, hoje tenho 55. É muito impactante o passar do tempo", refletiu Bardem numa conferência de imprensa esta sexta-feira.
"Faz-se o que pode, o melhor que se pode. Às vezes sai um desastre, às vezes sai melhor, mas o facto de ser premiado por uma profissão que é a nossa paixão e ter a sorte de poder viver disso é a cereja do bolo", acrescentou o vencedor do Óscar de 2007 por "Este País Não é Para Velhos".
Os outros dois prémios desta edição do evento são para o realizador espanhol Pedro Almodóvar e a atriz australiana Cate Blanchett, cujo rosto aparece no poster oficial do festival, exibido por toda acidade.
Haverá mais estrelas durante os oito dias do festival de 20 a 28 de setembro: Pamela Anderson, Lupita Nyong'o, Monica Bellucci, Tilda Swinton, Isabelle Huppert, Andrew Garfield, Charlotte Rampling e Johnny Depp, cujo segundo filme como realizador, “Modi, Three Days on the Wing of Madness”, está na secção oficial fora de competição.
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