O Festival de Cinema de Berlim foi acusado, no domingo (25), de ter servido de plataforma para vários cineastas que, na véspera, fizeram declarações sobre a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza que o presidente da capital alemã considerou "antissemitas".

"O antissemitismo não tem espaço em Berlim e isso também se aplica aos artistas", denunciou Kai Wegner, na plataforma X (antigo Twitter).

"Dahomey", de Mati Diop, é o grande vencedor do Festival de Berlim
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"O que aconteceu ontem [sábado] na Berlinale significou uma relativação insuportável", acrescentou, pedindo a prestação de contas à direção da mostra.

O presidente da câmara referia-se, sobretudo, às opiniões expressas durante a cerimónia de entrega dos prémios do festival, na noite de sábado, por cineastas que acusaram Israel de "genocídio" pelos seus bombardeamentos na Faixa de Gaza, que deixaram quase 30 mil mortos - sobretudo civis -, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, no poder em Gaza.

Pelo contrário, estes realizadores omitiram que a ofensiva israelita foi provocada por um ataque de milicianos do Hamas no sul de Israel a 7 de outubro, que provocou a morte de pelo menos 1.160 pessoas, a maioria civis.

Um deles foi o realizador de cinema americano Ben Russell, que usou um lenço palestiniano e acusou Israel de genocídio.

Guillaume Cailleau com Ben Russell

Por sua vez, o documentarista palestiniano Basel Adra, que recebeu um prémio de Melhor Documentário por "No Other Land", um filme sobre as expulsões de palestinianos na Cisjordânia ocupada, acusou Israel de "massacrar" a população palestiniana e criticou as vendas de armas da Alemanha para Israel.

As suas declarações foram aplaudidas pelo público presente na sala.

Uma dirigente do Partido Social-democrata, do chefe de governo, Olaf Scholz, Helge Lindh, qualificou de "chocante" o aplauso do público.

"Sinto vergonha de ver no meu país pessoas que hoje aplaudem acusações de genocídio contra Israel", declarou ao jornal Die Welt.

O Festival de Berlim é financiado, sobretudo, pelo Estado alemão.

Até o momento, a direção do festival não reagiu oficialmente à polémica, mas informou o jornal Die Welt que as declarações dos cineastas durante a cerimónia eram "opiniões individuais e independentes" do evento.

A Berlinale é "explicitamente contra a discriminação e todas as formas de ódio", mas considera importante que exista "a livre expressão de opiniões" dentro "dos limites da lei", apontou o festival.