“O Trio em Mi Bemol”, adaptação de uma peça de Eric Rohmer, que se estreou no Festival de Cinema de Berlim, é, segundo a realizadora Rita Azevedo Gomes, uma “comédia sentimental” onde o imprevisto não escapou à lente.

“Já era uma coisa que tinha na gaveta”, começou por contar à Lusa Rita Azevedo Gomes, que confessa já ter sido questionada muitas vezes sobre a origem da vontade de adaptar “O Trio em Mi Bemol”.

“Tinha pensado há vários anos fazer um programa de 'radio drama' na TSF. Escolhemos uma série de peças, eu e o [escritor e crítico] Pedro Mexia, mas acabou por não acontecer porque comecei a produzir e a preparar o filme ‘A Portuguesa’, e a ideia foi ficando para trás”, explicou, adiantando que tinha trabalhado e traduzido todo o texto.

Em 2020, com o primeiro confinamento, Rita Azevedo Gomes sentiu que “tinha de fazer qualquer coisa”, recuperando o projeto “O Trio em Mi Bemol” que teve agora estreia mundial no Festival de Cinema de Berlim.

Juntou um elenco “não muito numeroso”, com Paul (Pierre Léon) e Adélia (Rita Durão) e manteve a estrutura original dada por Rohmer. Dois ex-amantes que, depois de uma relação terminada, se encontram, trocando diálogos e silêncios.

“Fui com uma coisa muito indefinida, mas com a confiança absoluta nas pessoas que estavam comigo. Se calhar demasiada confiança, porque eles tiveram de trabalhar brutalmente para terem o texto. Era muito texto, com muito pouco tempo de recuo para preparar, tivemos uns quatro ensaios de vídeo”, partilhou a realizadora.

Num “tricô infindável”, o cenário escolhido por Rohmer, um apartamento em Paris, passa, neste Trio, para uma casa de praia em Moledo, no Minho, onde as estações do ano se vão superando.

“Deu outra possibilidade ao filme. A casa despida, sem móveis, sem tapetes, parece que flutua. Aquele chão branco, para mim foi muito sugestivo aquele espaço”, revelou.

O filme, feito “em total liberdade”, foi gravado em três semanas em plena pandemia. Rita Azevedo Gomes admite que não fugiu às circunstâncias, podendo ver-se, por exemplo, um dos elementos da equipa a usar uma máscara.

“Eu filmava o previsto e o imprevisto, filmava muito, mesmo quando estávamos a ensaiar. Sentia que aquilo devia ficar no filme. Houve alturas, principalmente no início, em que andávamos todos de máscara. Depois descontraímos um pouco porque não saíamos dali. Fiquei na dúvida se mantinha ou não. Mantive porque era a vida a entrar por ali, a vida era um bocadinho aquela, e ainda é essa”, sublinhou.

A realizadora de filmes como “A Portuguesa” (2018), “Correspondências” (2016) e “A Vingança de uma Mulher” (2012) admite ainda não ter tido tempo de digerir as críticas positivas que o filme tem sido alvo, sublinhando que “o grande mérito é dos atores”.

O Festival Internacional de Cinema de Berlim termina no próximo domingo.

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