Robert Pattinson, estrela mais conhecida pela saga "Crepúsculo", surge agora com uma imagem muito diferente, mais 'deslavada', num filme realizado pelos irmãos Joshua e Ben Safdie, praticamente desconhecidos na França: a nova geração do cinema americano aterrou esta quinta-feira em Cannes com "Good Time", que mergulha na adrenalina de uma noite em Nova Iorque

Realização febril, banda sonora eletrónica e cores berrantes: os mais jovens cineastas na competição em Cannes pela Palma de Ouro (33 e 31 anos) animaram parte da Croisette com a história de um roubo mal sucedido e uma corrida contra o tempo para escapar de (outros) criminosos.

Connie (Robert Pattinson) e o seu irmão Nick, que tem perturbações mentais (o realizador Ben Safdie), roubam um banco em plena luz do dia. Tudo seguia de acordo com os planos até que Nick é visto pela polícia e, logo a seguir, detido.

Em abnegação total, o seu irmão tenta tirá-lo da prisão durante uma noite agitada que o levará a um recetor, a um parque de diversões ou ao apartamento de uma avó que vive com a sua neta de 16 anos.

Uma noite que faz recordar "Nova Iorque Fora de Horas", de Martin Scorsese, um mergulho alucinante e cheio de encontros na Nova Iorque dos anos 80, e "Os Cavaleiros do Asfalto" (1973), do mesmo cineasta, pelo cenário do submundo.

Connie é "um personagem amoral que subitamente é forçado a tomar conta" de alguém, descreveu Robert Pattinson na conferência de imprensa.

Elogiado por grande parte dos críticos, a sua interpretação nervosa está a ser descrita como "melhor de sua carreira", segundo o site IndieWIRE. O The Wrap compara-a à revelação de Robert De Niro precisamente em "Os Cavaleiros do Asfalto".

O ator de 31 anos, por muito tempo objeto de fascínio das adolescentes pelo seu papel de vampiro em "Crepúsculo", já tinha feito notar o seu desejo por outros desafios com "A Cidade Perdida de Z", de James Gray, lançado nos cinemas há algumas semanas.

Um papel visto como um passo para trabalhos mais arriscados, como aconteceu com os filmes de David Cronenberg "Cosmopolis" (2012) e "Mapa para as Estrelas" (2014), apresentados em Cannes.

Casting de rua

Ao lado de Pattison está Jennifer Jason Leigh, que regressou em grande ao cinema em 2015 com "Os Oito Odiados", de Quentin Tarantino.

O restante elenco é formado por atores pouco conhecidos como Buddy Duress, um ex-delinquente que já participou noutros filmes dos irmãos Safdie, e figurantes descobertos durante castings de rua.

Um recurso que dá força e veracidade ao retrato que é construído de Nova Iorque, especialmente do bairro do Queens, à frente de Manhattan.

"Good Time" também conta com uma banda sonora sonora sofisticada graças ao músico experimental Oneohtrix Point Never, que se juntou ao ícone do rock Iggy Pop, cuja voz assombra o final numa sequência muito comovente.

Produtos de Nova Iorque, os irmãos Joshua e Ben Safdie, realizaram até agora filmes que exploram as falhas da alma humana e o conceito de fracasso nas nossas sociedades.

Após o retrato de um pai amável e irresponsável em "Daddy Longlegs", a sua primeira longa-metragem em 2009 (lançada em Portugal como "Vão-me Buscar Alecrim"), inspirados pelo seu pai, realizaram outros filmes, incluindo "Heaven Knows What" sobre uma viciada em drogas. Uma obra, inédito no nosso país, que respirava urgência e empatia.

Um sentimento também percetível em "Good Time", filme sobre um roubo, mas igualmente sobre uma família desfeita e a amizade entre irmãos.