A atriz Anouk Aimée, um dos rostos mais famosos e belos do cinema francês do século XX, morreu esta terça-feira na sua casa em Paris aos 92 anos, anunciaram o seu agente e a sua família.

A atriz de “Um Homem e uma Mulher”, “Lola” e “A Doce Vita” 'partiu esta manhã', revelou à France-Presse o agente Sébastien Perrolat, da agência TimeArt.

Manuela Papatakis, filha de Anouk Aimée e do realizador Nico Papatakis, também anunciou a sua morte.

“Com a minha filha Galaad e a minha neta Mila, temos a imensa tristeza de anunciar a partida da minha mãe Anouk Aimée. Estava perto dela quando faleceu esta manhã, na sua casa em Paris”, escreveu na sua conta no Instagram.

Nascida Françoise Judith Sorya Dreyfus a 27 de abril de 1932 em Paris, filha de atores, estreou-se aos 14 anos em "La Maison sous la Mer" (1947), filme dirigido por Henri Calef, e adotou o nome da sua personagem: Anouk.

Estudou também teatro e dança com Andrée Bauer-Thérond e fez "La Fleur de l'âge", filme de Marcel Carné que nunca foi lançado. Jacques Prévert, o argumentista, sugeriu-lhe que adotasse o pseudónimo de Aimée.

Foi como Anouk Aimée que alcançou notoriedade internacional ao dividir o ecrã com Jean-Louis Trintignant (falecido em 2022) no lendário “Um Homem e uma Mulher” de Claude Lelouch, vencedor da Palma de Ouro em 1966 e do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Impulsionado pela banda sonora e um refrão cativante da música principal, cantada por Pierre Barouh e Nicole Croisille, foi um dos maiores sucessos do cinema francês da década e o papel rendeu-lhe um raro Globo de Ouro de Melhor Atriz e um BAFTA, além de uma nomeação para os Óscares.

"Um Homem e uma Mulher"

A notoriedade valeu-lhe a participação no filme britânico "Justine" (1968), de George Cukor, mas Anouk Aimée destacou-se principalmente ao trabalhar com os maiores do cinema franco-italiano: Jacques Demy (“Lola”), Federico Fellini (“A Doce Vida” e “Fellini 8 1/2”), Bernardo Bertolucci ("A Tragédia de um Homem Ridículo"), Vittorio De Sica ("O Último Julgamento"), André Delvaux ("Laços Eternos"), Jacques Becker ou André Cayatte, que a lançou efetivamente em 1949 em “Os Amantes de Verona”.

Com "Salto no Vazio" (1980), de Marco Bellocchio, venceu o Prémio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.

Foi nomeada aos César (os Óscares franceses) por "O Meu Primeiro Amor" (1978), de Élie Chouraqui, com quem viveu e que fora assistente de realização de Claude Lelouch.

"Sou feminina e ser mulher é uma força incrível", disse um dia a atriz, que também soube manter o seu estatuto de estrela do teatro.

"Os Melhores Anos da Nossa Vida"

Anouk Aimée regressou para a sequela "Um Homem e Uma Mulher: 20 Anos Depois" (1986), embora aí o êxito tenha sido muito mais mitigado.

As suas presenças no ecrã foram-se tornando mais raras, mas fez um regresso comovente a Cannes em 2019 ao lado de Trintignant para reformar o lendário casal de “Um Homem e uma Mulher”, na segunda sequela de Claude Lelouch, “Os Melhores Anos da Nossa Vida”, que acabaria por ser a despedida de ambos do cinema.

Anouk Aimée disse que podia ficar muito tempo sem filmar.

"Não sei vender-me muito bem, sou uma pessoa que espera. Preciso ser pressionada", disse.

Mesmo assim, fez mais de 80 filmes... mas rejeitou o papel interpretado por Faye Dunaway no clássico "The Thomas Crown Affair" ("O Grande Mestre do Crime" em Portugal, de 1968).

"Fizeram-me tantas propostas, fiquei confusa, já não sabia", justificou.

No teatro, o seu grande sucesso foi "Love Letters", do autor americano Albert Ramsdell, que interpretou centenas de vezes, com vários companheiros de palco: Bruno Cremer, Jean-Louis Trintignant, Philippe Noiret, Jacques Weber e Gérard Depardieu.

Também atuou na televisão, principalmente em adaptações de grandes textos literários.

Anouk Aimée vivia na sua casa parisiense em Montmartre, cercada de filmes, gatos e cães. Era uma defensora da natureza e dos animais.

Além do cineasta Nikos Papatakis, casou mais três vezes, incluindo com o compositor Pierre Barouh e o ator britânico Albert Finney.

"É preciso ser feminina", insistia. "Não manter (no casal) relações de poder com o outro".

"Tive sorte de ser uma mulher livre, mas nunca me vi como mulher fatal", disse.

O ator Dirk Bogarde, colega de "Justine" e que a conhecia desde os 15 anos, terá dito: "Ela nunca fica tão feliz como quando está infeliz entre paixões".