Morreu Morgan Spurlock, o realizador de “Super Size Me - 30 Dias de Fast Food”, o documentário de 2004 nomeado aos Óscares que se tornou um fenómeno de popularidade que levou a alterações no setor.

A sua morte em Nova Iorque na quinta-feira aos 53 anos, de um cancro, foi confirmada pela família à revista Variety.

“Foi um dia triste, quando nos despedimos do meu irmão Morgan”, disse Craig Spurlock, que trabalhou com o irmão em vários projetos.

“O Morgan deu muito através da sua arte, ideias e generosidade. Hoje o mundo perdeu um verdadeiro génio criativo e um homem especial. Estou muito orgulhoso de ter trabalhado ao seu lado", acrescentou.

O maior impacto de Morgan Spurlock foi com o documentário que o mostrava a comer apenas McDonald's durante um mês, entre 1 de fevereiro a 2 de março de 2003, e o impacto na sua saúde física e mental.

"O que aconteceria se não comesse nada mais do que fast-food durante um mês inteiro? Morgan Spurlock faz justamente isso e embarca na jornada mais perigosa da sua vida. As regras? Durante 30 dias ele não pode comer nada que não esteja no menu da McDonald´s, tem de fazer três refeições diárias, e sempre que lhe perguntarem se quer um Super menu ele tem de aceitar. À medida que a sua condição física e psíquica se degrada, Spurlock percorre os Estados Unidos para entrevistar peritos e cidadão comuns, e tenta encontrar a explicação para um dos maiores problemas de saúde dos nossos tempos: a obesidade", resumia a sinopse.

Além da regra sobre aceitar o Super Menu, o realizador também passou a fazer menos exercício para corresponder ao perfil médio dos norte-americanos.

O trabalho também mostrava a influência das empresas do setor, nomeadamente como incentivava a má nutrição para obter lucros.

Em apenas um mês, Spurlock alegou que engordara quase 11 quilos e meio e sofreu de depressão e disfunção hepática.

Um gigantesco sucesso para o género na América do Norte e a nível internacional (mais de 22 milhões de dólares nas bilheteiras para um orçamento de apenas 65 mil dólares), "Super Size Me" tornou-se um fenómeno cultural que gerou um amplo debate sobre os hábitos alimentares.

Seis semanas após a estreia, a McDonald's colocou fim às porções gigantescas dos seus Super Menus.

A Variety recorda que o documentário foi alvo de algumas críticas por causa da recusa do realizador em partilhar publicamente o registo de dieta durante a rodagem, mas continua a ser mostrado em algumas aulas de saúde escolar.

Em dezembro de 2017, quando o movimento continuava a ganhar força após as revelação sobre o produtor Harvey Weinstein e outros personalidades poderosas, Spurlock admitiu que era “parte do problema”.

Num longo texto nas redes sociais, admitiu ter sido infiel várias vezes e que tinha chegado a acordo com uma antiga assistente num caso de assédio sexual. Disse ainda ter sido acusado de violação quando estava na faculdade no início dos anos 1990.

A sua carreira terminou pouco depois, demitindo-se da sua produtora Warrior Poets, formada após o sucesso de “Super Size Me”.

Nesse período de 13 anos, produziu e realizou quase 70 documentários para o cinema e televisão, sobre temas controversos e atuais como o envolvimento dos EUA na guerra do Afeganistão, o salário mínimo, as condições laborais dos imigrantes ou a pressão das grandes empresas sobre as quintas geridas por famílias (“Super Size Me 2: Holy Chicken!”).