A caminho dos
Óscares 2021
Kathy Wardell passa atualmente pelo estado de Maryland, no leste dos Estados Unidos, onde conversou com a AFP. Mas esta incansável viajante poderia perfeitamente atravessar o país, até ao outro extremo, como Fern, a heroína de "Nomadland" (o grande vencedor dos Óscares deste ano), com quem partilha semelhanças.
Wardell tem 56 anos. Em outubro, começou a viver a tempo inteiro no seu motorhome. A etapa do dia é passada no acampamento Ramblin Pines, na cidade de Woodbine, no coração de uma região semirrural.
Sentada numa cadeira dobrável à volta de uma fogueira, fala sobre "Nomadland": "Achei muito bom, um pouco deprimente".
Cortar as últimas pontes
O filme em que Fern, uma viúva de uma cidade em crise, deixa a vida sedentária para iniciar uma jornada errante e cheia de incertezas tem ecos da sua própria experiência.
"A minha vida estava a começar a desmoronar. A minha carreira, o meu casamento, a doença da minha mãe, que acabou por morrer", diz Wardell, que garante que demorou vários anos até decidir levantar a âncora.
Hoje está num encontro convocado por uma organização chamada RVing Women, que tem mais de 2300 membros em todo o país; mulheres que moram nos seus "motorhomes", de forma permanente ou ocasional.
A filial local da associação tem 150 mulheres, das quais cerca de trinta se reuniram neste acampamento no fim de semana. A maioria tem mais de cinquenta anos.
Segundo Lee Ensor, que coordena o grupo, 50% dos membros viajam sozinhos, sem marido, namorado ou outro companheiro.
Asfalto quente
Loretta Veney, de 62 anos, juntou-se ao grupo RVing Women semanas depois da morte do marido, na sequência de um derrame em 2016, enquanto o casal acampava.
Veney jurou ao falecido marido que continuaria a viver ao ar livre e apenas trocou o "motorhome" de 12 metros que tinha com ele por um modelo menor.
"Consegui manter a minha palavra, sem me preocupar em fazer isso sozinha", diz Veney.
"Nomadland" mostra mulheres a viver em veículos mal adaptados e "motorhomes" remendados. Mas existe uma classe mais rica de viajantes que podem comprar veículos luxuosos por preços que chegam a centenas de milhares de dólares. Esses motoristas não vivem à margem da sociedade.
Kathy Healy, a presidente do grupo local, fala sobre veículos com solo com aquecimento e equipados com mobiliário feito à mão.
O seu "motorhome", que ela chama de "A Besta" e com o qual viaja com a sua mulher, está equipado com som de alta qualidade.
"Quero aproveitar a vida"
Linda Cosme, advogada de 60 anos que participa no encontro, reteve de "Nomadland" a "gravidade" do destino de Fern, a quem deseja "alegria e satisfação" numa eventual segunda parte do filme, hipótese que nunca foi comentada pela realizadora, Chloé Zhao.
De qualquer forma, essa alegria no final da estrada também é a meta de Wardell, que está prestes a dirigir-se ao Colorado, Dakota do Sul e Idaho, onde planeia participar noutras reuniões.
Os seus primeiros seis meses no seu trailer, que apelidou de "Howy" ("House on Wheels, Yay"), preencheram-na, diz.
"Houve um tempo em que eu tinha uma casa e gostava dela. Mas agora não quero preocupar-me com coisas assim", continua a nómada. "Quero aproveitar a vida".
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