O realizador Bryan Singer foi despedido de "Bohemian Rhapsody", o filme sobre a vida do vocalista dos Queen Freddie Mercury.
A informação foi confirmada por um porta-voz do estúdio 20th Century Fox.
A decisão acontece a duas semanas do fim da rodagem e apesar da relação profissional que existia entre as partes: após tornar-se conhecido com "Os Suspeitos do Costume", Bryan Singer foi um importante elemento na visibilidade comercial da Fox este século graças ao envolvimento na saga "X-Men", não obstante também constar que o seu comportamento nas rodagens podia ser um "pesadelo".
Apenas na sexta-feira passado, o estúdio tinha informado em comunicado que a rodagem tinha sido suspensa por causa da "inesperada indisponibilidade" do realizador.
Pouco depois, os seus representantes também lançaram um comunicado referindo-se a uma "questão de saúde pessoal relacionado com Bryan e a sua família", acrescentado que este esperava regressar para trabalhar após esta temporada festiva, ou seja, no início do próximo ano.
Há dois meses que são também frequentes os rumores sobre o possível envolvimento do realizador de 52 anos na onda de escândalos sexuais que assola Hollywood, tema que, para já, nenhuma das partes assume ter que ver com a demissão.
No caso de "Bohemian Rhapsody", segundo várias fontes, o escândalo terá sido outro: paragens forçadas da produção por causa do "comportamento instável" e "pouco profissional" de um "realizador temperamental", que se ausentava ou chegava atrasado à rodagem, que estava a decorrer em Londres.
Tudo isto terá levado a tensões na relação com várias pessoas, incluindo Rami Malek, o ator da série de culto "Mr. Robot" que aqui interpreta Freddie Mercury. Malek ter-se-á queixado ao estúdio sobre o comportamento do realizador e terá tido com ele várias discussões, nenhuma com envolvimento físico mas, segundo o Hollywood Reporter, uma delas terá envolvido um "objeto" atirado por Singer.
Outro dos atores do elenco, Tom Hollander, escolhido para interpretar o empresário dos Queen, também chegou a demitir-se alegadamente devido ao comportamento de Singer, mas acabou por regressar.
Decisivo para a demissão terá sido a ausência de três dias no estúdio - ou o "desaparecimento", como o descreve o Hollywood Reporter - quando era suposto retomar após a paragem para festejar o Dia de Ação de Graças [Thanksgiving], com a Fox a ter de o substituir temporariamente pelo diretor de fotografia Thomas Newton Sigel para que a produção não parasse.
Já antes disso constava dentro da indústria que a Fox estava a ter reuniões discretas para encontrar um possível substituto para acabar o filme pois ainda tem esperança que possa chegar às salas a 25 de dezembro de 2018.
Também ao Hollywood Reporter, Bryan Singer negou ter tido qualquer comportamento pouco profissional e acusou o estúdio de não lhe ter permitido ausentar-se para cuidar de um familiar "seriamente doente" assim como da sua própria saúde. "A única coisa que queria era poder ter terminado este projeto e honrar o legado de Freddie Mercury e dos Queen, mas a Fox não mo permitiu porque eu precisava de temporariamente por a minha saúde e a dos que me são queridos em primeiro lugar", disse.
Contagem decrescente para novo escândalo sexual?
Os próximos desenvolvimentos desta história poderão ser se o comportamento errático de Bryan Singer ou a decisão radical do estúdio foram influenciados pelo seu alegado envolvimento em escândalos sexuais.
As acusações contra o produtor Harvey Weinstein a 5 de outubro geraram uma onda de acusações em Hollywood que já arrastou muitas outras personalidades. A cada novo escândalo, surge nas zonas de comentários às notícias nos sites especializados de Hollywood o nome de Bryan Singer numa "bolsa de apostas" para ser o próximo predador sexual a ser denunciado, principalmente após as denúncias contra o seu amigo e colaborador Kevin Spacey.
Descrito como um "segredo aberto", muitos interrogam-se quando é que as alegadas vítimas darão a cara, uma vez que o realizador, assumidamente bissexual e com um filho com a atriz Michelle Clunie, já enfrentou três processos judiciais por ataque sexual desde 1997, dois dos quais envolvendo menores: um não seguiu em frente por falta de provas, o segundo foi retirado e o terceiro também, a pedido da alegada vítima.
O escritor Bret Easton Ellis relatou que dois dos seus antigos amantes tinham estado presentes em festas de sexo envolvendo menores que tinham como anfitriões Singer e o também realizador Roland Emmerich.
Após a queda de Spacey, o realizador apagou a sua presença nas redes sociais, onde surgiam vários fotografias sugestivas com jovens. No Reddit também foi notado que desapareceram vários artigos online sobre os alegados comportamentos impróprios com adolescentes.
A 1 de novembro, um dia após surgirem as acusações contra Spacey, um homem chamado Justin Smith descreveu detalhadamente como Singer se movimentava com um grupo de homens entre os 50 e os 70 anos e "rapazes" de 16 e 17 anos, e o atacou sexualmente, acrescentado que podia "garantir que as histórias dos jovens adolescentes que dizem que foram violados são verdadeiras". O relato foi apagado, mas ficou para a posteridade.
Este sábado, o mesmo Justin Smith perguntou pelas redes sociais diretamente à Fox o que estava à espera para substituir Singer em "Bohemian Rhapsody", dizendo que era injusto prejudicar o emprego de tantas pessoas porque "estupidamente vocês contrataram um predador sexual [que] notoriamente não é de confiança".
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