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«Tomorrowland: Terra do Amanhã», o filme da Disney que agora estreia nas salas de cinema de todo o mundo, uma jovem cheia de paixão pela ciência (Britt Robertson) une-se a um ex-menino prodígio (George Clooney) numa missão perigosa para descobrir os segredos de um local enigmático, num tempo e espaço conhecidos precisamente como Tomorrowland.

Fora este fio de argumento, pouco mais foi divulgado sobre a película antes da estreia, uma estratégia que tem sido aliás habitual nos projetos que envolvem o co-argumentista (e co-produtor) do filme Damon Lindelof, que criou e co-escreveu a série «Lost» e e co-assinou filmes como «Prometheus» e «Star Trek: Além da Escuridão».

Acima de tudo, sabe-se que o realizador Brad Bird (oscarizado por «Ratatui» e «The Incredibles – Os Super-Heróis») é um enorme fã da Disney e do imaginário científico dos anos 50, que o filme é produzido pelo estúdio do Rato Mickey e que Tomorrowland é um dos elementos centrais do universo dos parques temáticos Disneyland.

Qualquer americano saberá que Tomorrowland é a parcela do parque dedicada ao futuro, à utopia fascinante de um amanhã em que o desenvolvimento da tecnologia tem um efeito positivo na vida das pessoas. E sabe-o porque o parque Disneyland, fundado por Walt Disney em 1955, se tornou desde logo uma parte central e fortíssima do imaginário americano da década de 50, cuja abertura foi antecipada por um programa semanal de televisão que se tornou também ele incontornável na memória do país.

O parque foi uma aposta única excecionalmente arriscada, que se falhasse teria certamente levado à falência do estúdio. Para o financiar e apresentar aos americanos, Walt Disney serviu de anfitrião a um programa semanal de televisão (que então dava os primeiros passos como meio de comunicação de massas) chamado precisamente Disneyland, que se tornou um sucesso monumental e acabou por mitificar a imagem do próprio cineasta.

Foi aí que o público contactou pela primeira vez com os termos Frontierland, Adventureland, Fantasyland e Tomorrowland, que são não só as parcelas em que se divide o parque (uma dedicada ao Oeste, outra às grandes aventuras em cenários naturais, outra à fantasia e a outra ao futuro e à ficção científica), como também serviam de tema a cada um dos episódios, uns fazendo uso do catálogo de produções da casa (como os documentários da vida animal para Adventureland ou as curtas de animação para Fantasyland) outros criados de raiz (como as séries em toada de western para Frontierland e o programas especiais com enfoque na ciência, alguns deles, realizados por Ward Kimball e com consultoria do Werner von Braun, tornaram-se muito populares na época)

Nos EUA, a Tomorrowland era pois um símbolo da utopia do futuro, da tecnologia ao serviço de futuros radiosos, que era um conceito muito em voga no imaginário dos anos 50 e 60 (os futuros negros e distópicos surgiram a seguir).

Quando Walt Disney morreu em 1966, o projeto que tinha em mãos e que reuniria soluções arquitetónicas perfeitas para a sociedade do futuro que seria Epcot, acabou por desaparecer nessa configuração e tornou-se uma versão mais «light», com o parque temático a ser integrado no Walt Disney World, parcialmente dedicado a essa visão otimista do futuro e da ciência.

Se o nome do parque e da terra é mítico para os americanos, porque a Disneyland faz parte do imaginário desde os anos 50 do país, até por via da série, no resto do mundo, onde esta passou de forma parcelar, isso não aconteceu. A primeira Disneyland fora dos EUA foi em Tóquio só em 1983 e a seguir surgiu a de Paris em 1992, em que a terra de Tomorrrowland se chamava Discoveryland.

Aqui, para resolver a complicação do futuro utópico se tornar sempre presente e Tomorrowland ter de ser sempre atualizada e alterada, o futuro utópico tornou-se um futuro retrofuturista, visto pelos visionários de outrora como o Julio Verne ou o H.G. Wells, e isto acabou por passar para as Tomorrowland americanas.

Mais de 60 anos mais tarde, o filme «Tomorrowland: Terra do Amanhã» acaba por recuperar os ideais do projeto concebido por Walt Disney, de uma fulgurante cidade do amanhã e da promessa de um futuro radioso.

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