A caminho dos
Óscares 2020
Com 11 nomeações, "Joker", de Todd Phillips, lidera a corrida aos Óscares, seguido por "Era Uma Vez em... Hollywood", de Quentin Tarantino, "O Irlandês", de Martin Scorsese, e "1917", de Sam Mendes, todos com dez. A lista para a 92ª edição dos Óscares também colocou a Netflix na liderança: é o estúdio com mais nomeações, 24 ao todo.
VEJA AQUI A LISTA COMPLETA DE NOMEADOS
Portugal podia, pela primeira vez, ter tido um filme nomeado em 92 anos de cerimónias, mas "Tio Tomás: A Contabilidade dos Dias", falhou a nomeação para Melhor Curta-Metragem de Animação, apesar de ter chegado à “short-list” de 10 finalistas. A realizadora Regina Pessoa já tinha estado nesta posição com "História Trágica com Final Feliz” (2006).
Ainda assim, "Klaus", da espanhola SPA Studios, disponível na plataforma Netflix, foi nomeado nas longas-metragens de animação: na qualidade de supervisor de animação está o português Sérgio Martins e o seu irmão gémeo, Edgar Martins, foi o supervisor de argumento no mesmo filme.
As nomeações ficaram marcadas por várias surpresas, como a estreia de Scarlett Johansson nos Óscares logo com duas nomeações, para Melhor Atriz por "Marriage Story" e Atriz Secundária por "Jojo Rabbit": a primeira era esperada, a segunda menos.
Outra dupla nomeação surpreendente foi a de de “Honeyland”, da Macedónia do Norte, para Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário de Longa-Metragem.
Depois há as surpresas pelas ausências, como as de "Frozen II: O Reino do Gelo" para Filme de Animação, da canção de Beyoncé para "O Rei Leão", de "1917" e "Era Uma Vez em... Hollywood" da Montagem, e "Apollo 11" dos documentários. Ou da latina Jennifer Lopez e de Nicole Kidman como secundárias, por "Ousadas e Golpistas" e "Bombshell: O Escândalo", respetivamente. E embora não fosse um favorito, também pesa a completa exclusão das nomeações de "A Despedida".
Em tempos de Time´s Up, o debate à volta da "representatividade" também faz parte da temporada de prémios: além das ausências de Jennifer Lopez e "A Despedida" (nomeadamente da atriz Awkwafina), irá certamente gerar controvérsia que Cynthia Erivo ("Harriet", sem estreia prevista em Portugal) seja a única negra nas quatro categorias de interpretação e Antonio Banderas ("Dor e Glória") o único hispânico.
Issa Rae, que anunciou os nomeados juntamente com John Cho, também não deixou de, ironicamente dar os parabéns aos cinco "senhores" nomeados para Melhor Realização: Scorsese, Tarantino, Mendes, Phillips e Bong Joon-ho ("Parasitas"), ficando excluída Greta Gerwig por "Mulherzinhas".
"Joker" chega-se à frente
Fenómeno de bilheteira que se tornou também social e cultural, o filme sobre um comediante de stand-up fracassado cuja doença mental é agravada pela indiferença ou mesmo hostilidade da sociedade que o rodeia, transformando-se no assassino psicopata conhecido como Joker, torna-se o grande favorito às estatuetas: também é o mais nomeado para os BAFTA, os prémios da Academia de Cinema Britânica, com o mesmo número de nomeações.
Um ano após as dez nomeações e três estatuetas para "Roma", a Netflix aumentou a sua presença na corrida a Melhor Filme: além do épico de Martin Scorsese, foi ainda nomeado "Marriage Story" (seis nomeações), um olhar profundo e humano sobre o fim de um casamento e a união de uma família, realizado por Noah Baumbach.
Os outros títulos nomeados para a principal estatueta foram "Le Mans '66: O Duelo" (quatro nomeações), "Jojo Rabbit" (seis), "Mulherzinhas" (seis) e "Parasitas" (seis).
Categorias de interpretação causam polémica
Apesar de a Academia ter aumentado a diversidade e o caráter internacional, chamando centenas de novos votantes, a imprensa especializada norte-americana já fala na segunda parte do #OscarSoWhite, pelo domínio de atores brancos nas quatro categorias de interpretação.
O Deadline chega mesmo a indicar Antonio Banderas como "a única pessoa de cor" ["the lone person of color"] (ainda que ele seja, na realidade, um branco hispânico) entre os dez nomeados nas categorias de interpretação masculinas, juntando-se a Cynthia Erivo por "Harriet" nas atrizes, mas acabou por retirar posteriormente a referência.
O espanhol conseguiu chegar às nomeações para Melhor Ator após vencer o mesmo prémio no Festival de Cannes, o que estava longe de ser uma certeza, ao contrário das presenças de Joaquin Phoenix ("Joker"), Adam Driver ("Marriage Story") e Leonardo DiCaprio ("Era Uma Vez..."), a que se juntou o veterano Jonathan Pryce: está nomeado pela primeira vez por "Dois Papas", quando festeja os 50 anos de carreira e 72 de idade (é o sétimo mais velho nomeado nesta categoria na história dos Óscares).
De fora ficaram Taron Egerton ("Rocketman"), Christian Bale ("Le Mans '66"), Robert De Niro ("O Irlandês"), Eddie Murphy ("Chamem-me Dolemite") e Adam Sandler ("Diamante Bruto").
Nas atrizes, Cynthia Erivo juntou-se às esperadas Saoirse Ronan ("Mulherzinhas"), Renée Zellweger ("Judy"), Charlize Theron ("Bombshell") e Scarlett Johansson ("Marriage Story"), não chegando a entrar na categoria Lupita Nyong'o ("Nós") e Awkwafina ("A Despedida").
Nos atores secundários, ficaram confirmados Brad Pitt ("Era Uma Vez..."), Al Pacino e Joe Pesci ("O Irlandês"), Tom Hanks ("Um Amigo Extraordinário") e Anthony Hopkins ("Dois Papas"), que eram apontados como os favoritos, caindo por terra as esperanças depositadas em Jamie Foxx ("Tudo Pela Justiça"), Willem Dafoe ("O Farol") ou Song Kang-Ho ("Parasitas").
Esta é uma categoria peculiar: está dominada por atores que nos habituámos a ver como protagonistas (mesmo Pesci) e andavam ausentes da corrida às estatuetas há muitos anos: Pesci desde 1990, Pacino desde 1992, Hopkins desde 1997 e Hanks desde 2000.
Laura Dern ("Marriage Story") e Margot Robbie ("Bombshell") eram apostas seguras nas secundárias, assim como Florence Pugh ("Mulherzinhas"), mas as ausências de Jennifer Lopez ("Ousadas e Golpistas") e Nicole Kidman ("Bombshell") contribuíram para Scarlett Johansson arrecadar a segunda nomeação ("Jojo Rabbit") e a presença de Kathy Bates ("O Caso de Richard Jewell").
O estúdio mais nomeado é... a Netflix
Tal como tem acontecido nas séries, a Netflix emergiu do anúncio desta segunda-feira como o estúdio com mais nomeações: 24, mais nove do que no ano passado.
Além das dez nomeações por "O Irlandês" e as seis de "Marriage Story", o serviço de streaming garantiu três para "Dois Papas" (Melhor Ator, Melhor Secundário e Melhor Argumento Adaptado), duas para as Longas-Metragens de Animação "Klaus" e "J'ai Perdu Mon Corps" (comprada em Cannes já feita).
Obteve ainda mais duas nomeações para os Documentários de Longa-Metragem de que garante a distribuição, "American Factory" (produzido pelo casal Barack e Michelle Obama) e o brasileiro "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, além do Documentário de Curta-Metragem "Life Overtakes Me".
Seguem-se as 23 da Disney (dez do estúdio, seis cada da 20th Century Fox e Fox Searchlight, e uma para "The Cave", via National Geographic), 20 nomeações da Sony (metade delas com o filme de Tarantino e seis com "Mulherzinhas"), 16 para a Universal e Focus Features (principalmente para "1917") e 12 da WarnerMedia (11 através de "Joker").
Melhor Filme Internacional: acabou o enguiço da Coreia do Sul
Confirmou-se a admiração de Hollywood pelo vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes "Parasitas", com que o realizador Bong Joon-ho acompanha uma família coreana no desemprego que começa a ter um interesse peculiar por uma outra, esta com um estilo de vida cheio de glamour – até que todos se envolvem num acontecimento absolutamente inesperado.
Além de Melhor Filme, Realização, Argumento Original, Design de Produção e Montagem, está nomeado para a rebatizada categoria de Melhor Filme Internacional: incrivelmente, à 31ª candidatura, é a estreia do cinema da Coreia do Sul.
É o grande favorito na categoria em que estão os esperados "Dor e Glória", de Pedro Almodóvar (Espanha), "Os Miseráveis", de Ladj Ly (França, que arrecada a 38ª nomeação, um recorde) e "Corpus Christi - A Redenção", de Jan Komasa (Polónia).
A grande surpresa é “Honeyland”, da Macedónia do Norte, que também acumula a nomeação com Melhor Documentário de Longa-Metragem: realizado por Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, o filme, estreado e premiado no Festival de Sundance, regista a vida e o ofício da apicultora Hatidze Muratova na aldeia remota de Bekirlija e a sua relação com a sua mãe acamada de 85 anos.
Surpresa nos filmes de animação
Na categoria de animação de longa-metragem, a grande surpresa foi a ausência da Disney com "Frozen II: O Reino do Gelo", embora o estúdio continue a marcar presença por via da Pixar, com “Toy Story 4”.
A DreamWorks conseguiu colocar na corrida o terceiro e último filme da saga “Como Treinares o teu Dragão” e, após conquistar o Globo de Ouro, “Mr. Link” conseguiu nova nomeação para o estudio Laika.
O francês “J’ai Perdu mon Corps”, que tinha estreado na Semana da Crítica do Festival de Cannes e está atualmente disponível na Netflix, conseguiu furar a hegemonia anglo-saxónica e garantir também a nomeação.
Se Portugal não conseguiu estar presente nas curtas-metragens, está-o de alguma forma nesta categoria de longas animadas com “Klaus”, a longa-metragem da Netflix produzida em Espanha e que conta com dois talentos lusos entre a principal equipa criativa, os gémeos Sérgio e Edgar Martins, respetivamente nos postos de supervisor de animação e supervisor de argumento.
Os nomeados para os prémios norte-americanos de cinema foram anunciados pouco depois das 13h00 (hora de Lisboa), numa transmissão global em direto da sede da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em Los Angeles, conduzida pelos atores John Cho e Issa Rae.
REVEJA O ANÚNCIO.
Após estas nomeações, os 8469 votantes da Academia podem votar entre 30 de janeiro e 4 de fevereiro.
A cerimónia terá lugar a 9 de fevereiro em Los Angeles, sem um apresentador anfitrião (repete-se o que aconteceu em 2019), e será transmitida em Portugal pelos canais FOX e FOX Movies: à semelhança do ano passado, no primeiro haverá tradução e comentários em português e no segundo será emitida a versão original.
Comentários