Mas a relação do cineasta espanhol, de 69 anos, com o evento francês é bem anterior. "O meu primeiro Festival de Cannes foi em 1983. Fui com o Javier Garcillán, o produtor de 'Labirinto das paixões' para exibir a produção no Mercado" de filmes, disse à AFP. "Não veio muita gente ver. Mas foi muito emocionante", completou.
Além de apresentar várias produções, Almodóvar também integrou o júri do Festival de Cannes em 1992 e em 2017, ano em que foi presidente.
"Tudo sobre a minha mãe" (1999)
Apesar de toda a expectativa, "Tudo sobre a minha mãe" não ganhou a Palma de Ouro, que foi para "Rosetta", dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. No mesmo ano, Almodóvar teve de se contentar com o prémio de melhor realização. Agora, em 2019, Jean-Pierre e Luc Dardenne estão de volta com "Le Jeune Ahmed" (ainda sem título em português).
Da primeira experiência, Almodóvar tem uma "lembrança maravilhosa", pois o filme agradou tanto ao público quanto à crítica, "o que não é frequente", explicou recentemente ao jornal francês "Le Journal du Dimanche" (JDD). "Sentir ao vivo o amor do público foi especialmente emocionante", recordou.
"Volver" (2006)
Em 2006, foi o britânico Ken Loach, com "Ventos da liberdade", que ficou com o prémio. "Volver" venceu nas categorias de melhor argumento e atriz, prémio que, de maneira inédita, foi dividido entre as seis intérpretes do elenco (Penélope Cruz, Carmen Maura, Bianca Portillo, Chus Lampreave, Yohanna Cobo e Lola Dueñas).
No final da projeção de "Volver", Almodóvar viveu um dos momentos mais emotivos na Croisette: "Foi quando sequei as lágrimas de emoção que inundavam o lindo rosto de Penélope Cruz", contou ao JDD.
"Abraços partidos" (2009)
Três anos depois, Almodóvar, novamente com Penélope Cruz, regressou ao tapete vermelho de Cannes para mais uma vez concorrer à Palma de Ouro. Entre os seus "adversários", estavam Quentin Tarantino, Ken Loach, Elia Suleiman e Marco Bellocchio, um quarteto que também está de volta à edição deste ano.
O prémio máximo acabou por ficar com "O Laço Branco", do austríaco Michael Haneke.
"A pele que habito" (2011)
Agora sem Penélope Cruz, o cineasta espanhol tentou novamente com "A pele que habito", protagonizado por Elena Anaya e Antonio Banderas. Na seleção, destacaram-se mais uma vez os cineastas assíduos no evento, como os irmãos Dardenne e o americano Terrence Malick. "A árvore da vida", deste último, levou a estatueta.
O diretor de fotografia do filme, José Luis Alcaine, colaborador habitual de Almodóvar, ganhou o prémio Vulcain de melhor artista-técnico.
"Julieta" (2016)
Na mostra competitiva de 2016, voltou a encontrar os irmãos Dardenne e Ken Loach e teve ainda a concorrência do brasileiro Kleber Mendonça Filho, Xavier Dolan e Jim Jarmusch - três que também disputam a Palma de 2019. A vitória foi, pela segunda vez, do britânico Loach, com o drama social "Eu, Daniel Blake".
Daquela edição, o espanhol relembra que se surpreendeu pelo facto de o filme "Toni Erdmann", da alemã Maren Ade, não ter conquistado nada. O prémio é fruto "da decisão de nove membros do júri e, às vezes, não corresponde ao gosto dos espectadores, ou da imprensa", afirmou, também na entrevista ao JDD.
"Dolor y gloria" (2019)
No filme mais introspectivo de Almodóvar, Antonio Banderas interpreta um cineasta solitário no crepúsculo da sua carreira, enquanto Penélope Cruz encarna a mãe do realizador. Lançado em março em Espanha, o mais recente trabalho do cineasta teve um excelente desempenho de bilheteira no país de origem.
Horas antes da projeção em Cannes, o realizador dizia que "Cannes é uma grande porta para entrar no que será o caminho internacional do filme. Aqui, sim, você toma consciência de como se vê fora. Na projeção, ficarei atento a cada respiração destas duas mil almas que te dão muita informação sobre se há um momento em que o filme não é entendido ou, ao contrário, é mais intenso".
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