Asghar Farhadi divulgou hoje um comunicado no qual afirma ter decidido não se deslocar a Los Angeles para a cerimónia de 26 de fevereiro, ao contrário do que tinha planeado, "mesmo que se verificassem exceções que permitissem" a viagem, pois as medidas decretadas pelo Presidente norte-americano "são inaceitáveis".

O depoimento do cineasta, vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, com o filme "Uma Separação", foi prestado ao jornal The New York Times, que o publicou esta tarde na abertura da sua edição 'online', e critica a "promoção do medo", tanto pelos Estados Unidos como pelo Irão.

"Lamento anunciar, através deste depoimento, que decidi não comparecer na cerimónia da Academia", escreveu Farhadi.

"Ao longo dos últimos dias, e apesar das circunstâncias injustas que se levantaram a imigrantes e viajantes de vários países, que [procuravam entrar] nos Estados Unidos, a minha decisão manteve-se a mesma: comparecer na cerimónia e expressar as minhas opiniões, à imprensa, durante o evento", escreveu o realizador iraniano.

"Nunca tive intenção de boicotar a cerimónia", para mais quando a "indústria do cinema e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se opõem a fanatismos e extremismos". "Agora, porém, parece-me que a possibilidade de estar presente é acompanhada muitos 'ses' e 'mas', o que é inaceitável para mim", escreveu Farhadi.

O cineasta critica ainda a divisão do mundo em "nós e eles", que afirma não ser exclusiva dos Estados Unidos: "No meu país, verifica-se o mesmo".

"Durante anos, dos dois lados do oceano, os partidários de linha dura tentaram apresentar ao seu povo uma imagem irreal, assustadora, de outras nações e culturas, com o objetivo de transformar as diferenças em desacordo, o desacordo em inimizade e, esta, em medo", escreveu o realizador.

"Promover o medo junto das pessoas é um factor importante para justificar atos extremistas e fanáticos (...). Humilhar uma nação com o pretexto da segurança não é um fenómeno novo na história" e contribuiu sempre para aumentar divergências e conflitos.

"Condeno as condições injustas a que são forçados [agora] os meus compatriotas e os cidadãos dos outros seis países [sobre os quais estão impostas as restrições] que tentam entrar legalmente nos Estados Unidos da América, e espero que a sitaução atual não conduza ao aumento de mais divisões entre os povos", conclui Asghar Farhadi.

Na noite de sábado, o National Iranian American Council confirmou, em Washington, que as restrições de Trump impediriam Asghar Farhadi de entrar nos Estados Unidos.

O filme de Asghar Farhadi, "O vendedor", que se estreou em Portugal em dezembro, inspira-se em "A Morte do Caixeiro Viajante", do dramaturgo norte-americano Arthur Miller.

Na quinta-feira, a atriz iraniana Taraneh Alidoosti, de "O Vendedor", disse que se recusaria a ir aos Estados Unidos, em protesto, para assistir à cerimónia dos Óscares.

Numa ordem executiva assinada na sexta-feira, Donald Trump suspendeu a entrada de refugiados nos Estados Unidos, por pelo menos 120 dias, e impôs um controlo mais severo a viajantes oriundos do Irão, Iraque, Líbia, Somália, Síria, Sudão e Iémen, durante os próximos três meses.

Viajantes oriundos daqueles países têm sido impedidos de entrar em aviões com destino aos Estados Unidos, desencadeando protestos em vários aeroportos.

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