O filme "Spencer" narra o Natal em que Diana de Gales, interpretada por uma surpreendente Kristen Stewart, decide divorciar-se do príncipe Carlos, herdeiro da coroa.
Larraín, que participa pela quarta vez no Festival de Veneza depois de Post Mortem (2010), Jackie (2016) e Ema (2019), volta agora para contar uma história real e um momento muito específico na vida de Diana.
O realizador enfrenta o desafio mergulhando na psicologia da jovem e bela nobre, protagonista do casamento do século, mas que esbarrou na tradição insustentável e no pudor da realeza britânica.
"É um conto de fadas de pernas para o ar", confessou à imprensa o realizador chileno, ilustrando com um ritmo angustiante e stressante, graças à banda sonora de Jonny Greenwood, o fim de semana infernal na década de 1990 em que Diana Spencer toma a histórica decisão de se divorciar do príncipe Carlos.
Bulimia, automutilação e anorexia
As ordens, as roupas, as obrigações, as cortinas fechadas e até costuradas, a anorexia, bulimia e automutilação são contados enquanto a imprensa espreita e a família real impõe os seus rituais na sua propriedade de Sandringham, em Norfolk.
A personagem real, que gerou enorme admiração desde os seus primeiros dias na coroa britânica até à sua trágica morte há 24 anos, tornou-se uma lenda pela sua sensibilidade e força para se revoltar.
Ícone da era moderna, que foi dissecada através de documentários, séries e filmes, desta vez o filme oferece o lado mais íntimo e doloroso.
"Ela era a mulher mais famosa do mundo, a mulher mais fotografada do mundo", reconheceu Stewart à imprensa pouco antes de desfilar na passadeira vermelha no lido veneziano.
"Embora tenha estabelecido uma relação com ela, acho que ninguém jamais vai entender como ela se sentia", confessou a atriz, referindo-se à impotência e infelicidade da personagem mais popular da nobreza mundial, decepcionada com a ausência de amor e infidelidade do marido.
A atriz californiana, famosa pela saga Crepúsculo, junta-se à longa lista de atrizes que tentaram capturar o espírito de Diana, incluindo Emma Corrin, que ganhou o Globo de Ouro este ano pela sua interpretação na quarta temporada de "The Crown" da Netflix.
Brilhante cineasta com histórias muito chilenas, entre elas "No" (2012), Tony Manero (2008) e "O Clube" (2015), Pablo Larraín enfrenta, depois do filme sobre Jackie Kennedy em 2019, outra figura muito alheia à sua realidade, popularmente conhecida pelas suas dores e glórias.
"Queria fazer um filme de que a minha mãe gostasse, porque ela não gosta de muitos dos filmes que fiz", revelou o cineasta à imprensa em Veneza.
Com argumento do veterano Steven Knight, o filme também é uma homenagem ao gesto de liberdade e rejeição da submissão, que os filhos de Diana de alguma forma entendem e partilham, representado na libertadora cena final.
"A personagem começa em colapso, depois transforma-se em fantasma e finalmente cura-se", resumiu o cineasta.
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