Angelina Jolie espera "não desiludir" os fãs da cantora de ópera Maria Callas com a sua atuação no filme "Maria", do realizador Pablo Larraín, apresentado em competição esta quinta-feira no 81.º Festival de Cinema de Veneza.
A atriz norte-americana, 49 anos, interpreta Callas na sua última semana de vida, em Paris, e ainda ousa dar-lhe a voz depois de quase sete meses a treinar as cordas vocais.
Tudo ao serviço de uma personagem de vida atormentada, com quem, confessou em conferência de imprensa, partilha uma certa "vulnerabilidade".
"Para mim a referência foram os fãs de Maria Callas, aqueles que gostam de ópera, para não desiludi-los", explicou aos jornalistas antes da estreia.
Larraín já dirigiu filmes sobre outras grandes figuras femininas icónicas com "Jackie", sobre a esposa do falecido presidente John F. Kennedy, ou "Spencer", sobre a Princesa Diana.
Apaixonado por ópera, a ideia começou a ganhar corpo quando percebeu que "quase não há filmes sobre as estrelas" do género lírico, disse o realizador chileno, que ganhou o prémio de Melhor Argumento em Veneza no ano passado com "O Conde".
Larraín mistura digitalmente a voz de Jolie com as gravações originais de "La Divina" ao longo do filme, filmadas em cenários lendários como o Scala de Milão.
Jolie confessou que, na juventude, era mais fã de música "punk", mas para o papel de Callas não hesitou em ceder aos desejos do realizador.
"Pablo é alguém que não faz as coisas pela metade", declarou com um sorriso.
"Quando se atinge um certo nível de desespero, de tristeza, de amor, em certo ponto apenas alguns tipos de sons podem incorporar esses sentimentos", confessou a atriz.
Vencedora do Óscar de Melhor Atriz Secundária por "Vida Interrompida" (1999), Jolie esteve ausente dos ecrãs nos últimos anos.
A atriz realiza inúmeras campanhas humanitárias e foi protagonista de um divórcio de grande repercussão com Brad Pitt, que ainda ocupa as manchetes.
Questionada sobre a sua proximidade com Callas, que morreu aos 53 anos em Paris, depois de se retirar dos palcos e viver um sofrido caso de amor com o multimilionário Onassis, Jolie confessou que elas estão unidas por um sentimento de "vulnerabilidade".
"Há muitas coisas que não direi nesta sala e que vocês provavelmente já sabem", admitiu.
"Acima de tudo, partilho essa vulnerabilidade" com a diva da ópera, acrescentou.
Dois atores italianos destacam-se neste filme, Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher, como os dois funcionários que ficaram ao lado da diva até ao seu trágico fim.
De caráter vulcânico, Callas teve grandes triunfos e algumas saídas intempestivas do palco.
A sua apresentação de “Tosca” no Covent Garden de Londres, filmada por Franco Zeffirelli em 1964, é um clássico da ópera filmada.
Alguns anos depois, Callas abandonou as grandes produções de ópera e dedicou-se a recitais até à sua reforma 1973. Morreu quatro anos mais tarde.
Zeffirelli fez uma biografia cinematográfica da sua amiga em 2002, protagonizada por Fanny Ardant.
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