O guitarrista português Tó Trips edita no dia 10 o álbum “Surdina”, a banda sonora que compôs para um filme homónimo de Rodrigo Areias, e prepara-se para retomar alguma normalidade em palco, num tempo de pandemia.
Tó Trips contou à agência Lusa que terminou a banda sonora de “Surdina” no começo deste ano, a tempo de o filme se estrear em sala, em abril, mas a propagação do novo coronavírus alterou os planos tanto do músico como do realizador, empurrando o lançamento do álbum e a estreia cinematográfica para a próxima semana.
O guitarrista já tinha tido a experiência de compor sozinho para cinema, quando trabalhou com João Trabulo em “Sem companhia”, em 2010, sem contar com as vezes em que repartiu 'despesas' na composição, em ocasiões semelhantes, com o baixista Pedro Gonçalves, nos Dead Combo.
Para “Surdina”, Tó Trips procurou uma sonoridade que se encaixasse no temperamento da narrativa, escrita por Valter Hugo Mãe: “Um filme que trata da velhice, tem um lado cómico, tem o lado rural, meio popular”, descreveu.
“O que costumo fazer é criar uma música para o filme que alberga todo o conceito, e a partir daí faço o resto dos temas e o ambiente”, explicou, a propósito de “Tango Surdina”, a música que dá o mote mais melancólico e nostálgico ao filme.
Além da guitarra elétrica, Tó Trips introduziu linhas melódicas de piano, um instrumento que não lhe é habitual e que quis experimentar, precisamente porque uma banda sonora lhe pede esse desafio.
“Costumo fazer muitos exercícios de olhar para uma fotografia e imaginar uma história por detrás daquele ‘frame’. É um exercício que gosto de fazer. [No filme] o que me pedem não é imaginar uma história, mas dão-me uma para eu reforçar algum espírito daquelas imagens, realçar alguma coisa”, explicou.
A edição do álbum “Surdina”, em digital e em vinil, pela editora independente Revolve, sai numa altura em que Tó Trips fará alguns cine-concertos em Lisboa, Porto, Guimarães e Aveiro e voltará à estrada depois de meses de paragem forçada por causa da covid-19.
“Estive a trabalhar em casa, na guitarra e tive apoio da GDA [cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas], da SPA [Sociedade Portuguesa de Autores], tivemos a sorte de ter alguns concertos dos Dead Combo no início do ano, que nos deu algum suporte para os próximos meses. Temos essa sorte, mas conheço muita malta que trabalha connosco que não pode dizer o mesmo”, lamentou.
Os Dead Combo tinham anunciado uma série de concertos de despedida para este ano, mas esse capítulo só será encerrado em 2021, porque há datas ainda remarcadas e por concretizar.
A despedida do grupo foi pensada para ser apenas com Tó Trips e Pedro Gonçalves, mas há concertos em que vão convocar mais músicos, e, consequentemente, mais técnicos, para ajudar também “quem está nesta crise”.
É o que vai acontecer, por exemplo, no dia 11, no Centro Cultural de Ílhavo, com um concerto dos Dead Combo em formato alargado.
Para 2021, fica adiada ainda a estreia do álbum de Club Makumba, o projeto que Tó Trips tem com o baterista João Doce, dos Wraygunn.
Tó Trips, nascido em 1966, fez parte dos Amen Sacristi e Santa Maria Gasolina em Teu Ventre, foi um dos fundadores dos Lulu Blind e dos Dead Combo e fez parte dos Ladrões do Tempo.
Como guitarrista tem feito trabalhos dispersos com outros músicos, nomeadamente Tiago Gomes, no EP "Vi-os Desaparecer na Noite", em torno de "Pela estrada fora", de Jack Kerouac, ou com Filho da Mãe no projeto "Guitarras ao alto".
Editou a solo os álbuns “Guitarra 66” (2010) e “Guitarra Makaka” (2015).
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