Em causa está a leitura de textos de César Monteiro por vários «leitores improváveis», no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa, entre os quais o ministro Poiares Maduro, a atriz Alexandra Lencastre, a psicóloga Joana Amaral Dias, a deputada Isabel Moreira, o barítono Jorge Vaz de Carvalho e o arquiteto Manuel Graça Dias.
O evento originou uma carta aberta de protesto assinada, entre outros, por João Pedro Monteiro Gil, filho do cineasta, por Margarida Gil, realizadora que viveu 25 anos com César Monteiro, pelo realizador Pedro Costa, pelos poetas Herberto Helder e Manuel Gusmão, e pela escritora Maria Velho da Costa.
Na carta, a que a agência Lusa teve acesso, lê-se que a sessão de leitura de textos de César Monteiro, revelando uma faceta menos conhecida do realizador, é feita sem ter sido pedida autorização ao filho, «que é quem detém os direitos autorais do poeta-cineasta».
«A haver pedido de autorização para aquele 'momento de arte', a resposta consistiria apenas numa palavra: Não. E assim é, ou foi, que a desfaçatez ganhou direito sobre a decência e o direito», sustentam os autores.
Na carta manifestam sobretudo um «vincado repúdio» perante «uma operação 'política' a todos os títulos repugnante», por incluir o ministro Poiares Maduro a ler »uma carta do César [Monteiro] a um organismo estatal e sabe-se lá mais o quê de igual jaez e esperta solicitude».
Em causa, alegam, está o "intuito subjacente de branquear, neutralizar, festivalar o furor interventivo, manifestamente anti-sistema, do cineasta, assim posto à mercê de tais canibais homenageantes".
Este tributo assinala os dez anos da morte de João César Monteiro, expondo uma faceta melhor conhecida do autor, a de escritor, embora alguns dos seus textos tenham sido publicados, nomeadamente "Corpo submerso" (1959), "Morituri te salutant" (1974) e "Uma semana noutra cidade – diário parisiense" (1999).
Margarida Gil revelou à agência Lusa que toda a obra escrita de João César Monteiro será publicada "a seu tempo", pela Letra Livre, estando atualmente a ser organizada por várias pessoas, entre as quais o editor Vítor Silva Tavares.
O Lisbon & Estoril Film Festival, que decorre em vários espaços de Lisboa e Cascais, termina no dia 18.
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