Viggo Mortensen não tem dúvidas de que o seu filme "Green Book: Um Guia Para a Vida" não vai ser esquecido.
O vencedor dos Óscares de 2018 centra-se na história verídica da amizade que nasceu quando o famoso pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali) contratou um segurança italo-americano como motorista (Mortensen) para o acompanhar uma digressão pelo Sul racista dos EUA nos anos 1960.
Muito bem recebido na antestreia mundial no festival de Toronto, onde chegou a ganhar o prémio do público, as polémicas começaram a surgir com o seu sucesso de bilheteira e quando se tornou claro que era um forte candidato aos Óscares.
Alegadas liberdades com a história, mesmo feitas por familiares de Don Shirley (uma "sinfonia de mentiras", chamou-lhe o irmão) e críticas por perpetuar a narrativa do "salvador branco" foram algumas das acusações.
Numa nova entrevista, o ator não tem dúvidas de que "Green Book" vai sobreviver ao teste do tempo, comparando-o ao melhor de Preston Sturges, cineasta que retratou comportamentos e temas sociais de forma acutilante nas suas comédias dos anos 1940.
O estúdio de Hollywood, acrescentou, podia ter feito mais para o defender da campanha negativa.
"É uma história baseada numa amizade muito verdadeira e acontecimentos reais, em que se tomaram pouquíssimas liberdades, mas houve uma pequena minoria a dizer que não era fiel à época, que aquelas pessoas não eram amigas, aquelas coisas não aconteceram, etc. O palerma naquela história era o tipo branco. Houve uma curva de aprendizagem acentuada para a personagem que interpretei. Mas os dois aprenderam um com o outro. E o facto é que foi baseado em acontecimentos verdadeiros", explicou ao The Film Stage.
Como já tinha dito ao jornal britânico The Independent em dezembro, o ator lamentou que algumas pessoas ainda hoje digam de forma pejorativa 'É este o 'Green Book' deste ano?' em relação a novos filmes.
"Como se fosse uma mancha ter feito parte daquele filme, o que é ridículo. Essa minoria muito pequena estava inconsciente ou conscientemente mal informada [...] Foi lamentável e muito irritante, porque queríamos falar sobre o filme e do tema do racismo historicamente e como as coisas nem de longe ainda não tinham mudado o suficiente, como sem dúvida vimos nos últimos dois anos.", defendeu.
"Foi uma pena que tivesse acontecido, mas o público, de todos os géneros, em todos os países, reagiu de forma extremamente favorável ao filme. Acho, e disse-o na altura, que é um filme realmente bom e vai resistir ao teste do tempo. Penso que está lá em cima, na grande tradição do melhor trabalho de pessoas como Preston Sturges e outros. É um filme muito bem feito, ponto final, e um vislumbre de um momento específico da história dos EUA, com repercussões e lições para os nossos tempos", acrescentou.
Viggo Mortensen reconheceu que ele próprio foi criticado por não se ter mantido calado durante os ataques ao filme.
"Mas porque é que haveria de recuar? Era uma grande história, bem contada. O estúdio retraiu-se durante muito tempo. Foi um aborrecimento, mas estou disponível para falar com qualquer pessoa sobre o que quer que seja", concluiu.
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