A dupla cómica mais famosa do Cinema é o objeto de estudo neste simpático filme que muito bem poderia integrar uma edição há uns anos dos Óscares. Mas a Academia pedia mudança … o facto de não ter havido é outra história.

Eles são conhecidos entre nós como “Bucha & Estica”, para inglês ver são "Laurel & Hardy" ou, como aqui são apresentados, “Stan & Ollie”.

Confusos? Não é preciso, os alter-egos são apenas isso … alter-egos … porque o filme não embarca nessas dissecações profundas do profissionalismo versus intimidade nem em personas, mas sim numa esquemática abordagem à relação de amizade entre os dois.

Protagonistas de mais de uma centena de filmes de comédia "slapstick" (desde o mudo dos anos 20 até aos 40), diversas vezes designados como “artistas de povo”, hoje claramente reavaliados tendo em conta a sua importância histórica como prémio, Stan Laurel e Oliver Hardy foram mais que somente arranques de gargalhadas. Foram, cada um à sua maneira, figuras trágicas.

Assim como toda a comédia, há um lado escapista nos seus espetáculos recheado de gags físicos e acidentalizados. A obra parte de um episódio causa-efeito para seguir numa digressão que ambos fizeram em 1953 no Reino Unido, uma manobra algo desesperada que não é mais como de sobrevivência tendo em vista a transição do Mundo onde a inocência ficou detida nas promessas de Guerra.

Dirigido por Jon S. Baird (que depois da incómoda comédia negra “Lixo”, de 2013, tem andado pelo universo televisivo), este rebuçado cinematográfico utiliza os mesmos truques académicos da ênfase emocional, sejam os "slow motions", a música melosa que faz adivinhar uma chapada de saudosismo e as epifanias que marcam o seu ponto.

Contudo, "Bucha & Estica" é um filme que nos causa uma empatia, mesmo fora desses arranjos automatizados. Porquê? Porque primeiro sentimos o carinho desta produção pelas figuras homenageadas, ao mesmo tempo que os atores tendem em atribuir “carne” a supostos bonecos, e o resultado, para além de química evidente, é este olhar biográfico e de certa forma analítico perante as pessoas fora das personas encarnadas.

E se Steve Coogan e John C. Relly são os responsáveis por essa combustão, cada um auferindo dignidade a esses tributos, Jon S. Baird, mesmo sob o comando do “bonitinho” produto para encantar a temporada de prémios (sabendo, neste momento, que foi uma tentativa falhada), tenta empestar alguns atributos técnicos invejáveis. Desde o primeiro plano de sequência que serve como guia turísticos por entre bastidores de Hollywood, até a um especial tratamento na figuração que, por vezes, se comporta como um organismo à parte (exemplo: a festa que se converte num turbilhão de revelações).

Não esquecer também a dupla coadjuvante que “rouba” algum protagonista aqui e ali, mesmo em território cómico: Shirley Henderson e Nina Arianda como as respetivas esposas dos mestres da comédia.

Dentro das suas limitações, “Bucha & Estica” é um filme curioso. Bem-comportado, mas que mesmo nessa cordialidade de estúdio, ostenta uma luz que nos transporta para a admiração de um cinema inexistente, extinto e que hoje resiste em permanecer na memória da sua cinefilia. Depois disto, surge a vontade de revisitar os verdadeiros Bucha & Estica. E se isso não é um objetivo cumprido, então não sei o que é.

"Bucha & Estica": nos cinemas a 27 de fevereiro.

Crítica: Hugo Gomes

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