Satisfatoriamente violento, “Logan” de James Mangold não se perde em CGI, não se perde em explicar o cânone, não quer saber se sabemos do 'pathos' de cada personagem… assume que é para os fãs, assume-se para si mesmo, como o filme que Hugh Jackman e Mangold procuram fazer há 17 anos e finalmente tiveram oportunidade…

Então, puseram as garras de fora: “Fuck” é a primeira palavra que Logan diz e a primeira acção é enfrentar e desmembrar um grupo de latinos que querem destruir o seu ganha-pão: uma limousine Chrysler de 2024. E corre-lhes mesmo mal, porque Logan já não quer saber de si… ao ponto de se colocar à frente de uma 'shot-gun' para proteger o carro.

Corre o ano 2029. Já não nascem mais mutantes e Logan vive com o seu nome verdadeiro: James Howlett, poupando dinheiro para proteger o cérebro mais poderoso do mundo que se encontra com uma doença degenerativa… o Professor Xavier (Patrick Stewart) está a ficar demente e as consequências do descontrolo podem ser letais para a Humanidade.

Desistindo da missão dos X-Men, pois já não há mais ninguém para encontrar e educar, vivem com Caliban (Stephen Merchant albino, de cabeça rapada, que nunca perde a oportunidade de uma piada), num antigo depósito de água, algures na fronteira com o México, aguardando que o dinheiro poupado chegue para comprar um barco e viverem em fuga.

A relação entre Jackman/Logan e Patrick Stewart/Prof. Xavier é dramática e ternurenta, como de pai e filho se tratassem… com uma naturalidade que nos comove e nos relembra que Stewart e Jackman vão abandonar o universo… ver Logan subir escadas com o Prof. Xavier ao colo, para o deitar… é das cenas mais carinhosas dos últimos tempos num filme de super-heróis.

Outra é ver um assassino enraivecido tornar-se mentor e protetor de uma criança. Pois do nada uma nova especiação surge-lhes no caminho: X-23, Laura. Uma menina mexicana com poderes idênticos aos de Logan.

Dafne Keen é esta mutante criada em laboratório que parece uma mistura entre a garota vampira do Deixa-Me Entrar” e a Feral Kid de “Mad Max 2: O Guerreiro da Estrada”, que se torna um dos mutantes mais 'bad-ass' dos últimos tempos: misteriosa, furiosa, silenciosa, tudo do pior para uma garota assassina… com uns movimentos que surpreendem até o Prof. Xavier e alguns melhoramentos genéticos aos que Logan tem.

E assim, de repente, com a entrada em cena desta nova criatura, o filme transforma-se num 'road movie' distópico influenciado pelos westerns de Clint Eastwood, "Exterminador Implacável 2" e ação que nada fica a dever ao Mad Max… porque Logan e Xavier concordam em levar a criança para um refúgio de mutantes no Dacota do Norte. Porque claro está, quem a criou, anda à procura dela, nas figuras de Pierce (Boyd Holbrook, cheio de pinta à Tom Hardy) e o Dr. Zander Rice (Richard E. Grant), filho de Dale Rice, criador do programa Weapon X.

E mais não podemos contar, porque seria difícil manter 'spoilers' quietinhos no seu lugar, mas dizemos que Jackman é Logan e a sua alma está toda no filme. São 18 anos neste papel de animal enjaulado, que toda a vida se conteve e agora vê a sua invencibilidade esvair-se gradualmente, num esforço portentoso de proteção aos novos mutantes. E que Stewart é Xavier e a sua 'joie de vivre' enche o ecrã com humor e paixão pela personagem e pela vida passada na edificação da trilogia de Wolverine.

Já James Mangold, o realizador, volta à forma de “O Comboio das 3 e 10” e faz aqui o seu melhor filme à data. Um filme de paixão, ressentimentos e algum humor, que evolui num clímax emotivo… que torna “Logan” o melhor filme da saga Wolverine e um virar do avesso das regras nos filmes de super-heróis. Finalmente.

Autor: Daniel Antero.

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