Zac Efron, um ator por diversas vezes associado a personagens adolescentes (ou do mesmo universo), enverga em "Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil" um dos notórios "serial killers" do EUA: Ted Bundy.

É evidente o seu empenho em desconstruir o homem que virou um mito da história criminal norte-americana, como se pode constatar pela popularidade que a sua figura e o seu julgamento (o primeiro a ser transmitido televisivamente) obtiveram. E talvez seja no momento do veredito ditado pelo juiz Edward Cowart (John Malkovich), condenando-o à morte em 1979, em que a câmara se aproxima cuidadosamente do rosto frio e imaculado de Efron, que sentimos, por fim, concretizada a diluição entre ator e personagem.

Este poderia ser um desempenho psicologicamente capaz de virar um filme tão génerico e superficial num dos preciosos retratos de um psicopata pela Sétima Arte … indo pelos territórios obscuros de um “Henry: A Sombra de uma Assassino” (1986), de  John McNaughton,  ou “A Casa de Jack” (2018), de Lars Von Trier.

Joe Berlinger, que também criou para a Netflix uma série documental sobre Bundy, deixa para trás "Ted Bundy - Serial Killer", o vulgarizado filme de Matthew Bright em 2002, o primeiro a assumir a inspiração direta com o homem que assassinou mais de 35 mulheres, mas "Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil" (título baseado na declaração de Cowart para descrever os crimes hediondos) fica-se pelas linhas guias do telefilme.

Não existe demência, tudo é higienizado num esforço hercúleo para contornar a glorificação dos crimes e do seu autor. Sendo o argumento baseado nas memórias da companheira de Bundy, Elizabeth Kendall, o filme tende em cair numa tentativa de afunilar a narrativa na sua perspectiva emocional. Ela, interpretada por Lily Collins, serve como um filtro que nos impede de chegar à “estrela”, que por sua vez é cedida ao embrião do filme de tribunal.

Pelo meio do caminho, há que fazer uma paragem para revisitar Haley Joel Osment, astro infantil de “O Sexto Sentido” e “A.I: Inteligência Artificial”, a ser reduzir a adereço. Aliás, não serão personagens secundárias somente isso mesmo … adereços?

Assim como o verdadeiro Ted Bundy, cujo carisma era a sua grande arma de sedução às vítimas, este ficcional Ted “Efron” Bundy tenta sugar um filme perdido no formalismo da sua cobardia.

"Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil": nos cinemas a 16 de maio.

Crítica: Hugo Gomes

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