Menina
Cristina Pinheiro aventura-se no universo das longa-metragens com “Menina”, um retrato de uma comunidade de imigrantes portugueses, em França, vista pelos olhos de uma criança de 8 anos.
Obviamente que esta visão está confinada ao limite desta personagem e, ao mesmo tempo, alargada pelo imaginário da mesma. Contudo, devemos salientar que não estamos perante em mais um retrato de fascínio pelo país-abrigo nem pela insuflação do mito do "bom imigrante". Ou seja, “A Gaiola Dourada” não é bem o catálogo aqui, por isso pedreiros e porteiras a favor de um estereótipo duradouro são somente perdidos e não-achados.
Não deixa de ser curioso que a “Menina” abra com as celebrações do 25 de abril, um gesto discreto que não avança em reflexões interiorizadas da condição do imigrante luso, mas se espeta como uma farpa aos movimentos populistas e anti-migrantes diversas vezes apoiados pelos mesmos (de forma contraditória) que utilizam essa data em prol do seu discurso.
Porém, como já havia referido, aqui não se trata de política. O enredo assume um certo intimismo ao explorar um amor paternal em fragmentação para com os piores clichés da má índole da paternidade. E é através dessa premissa que “Menina”, ou melhor, Luísa Palmeira (a jovem atriz Naomi Biton), que somos encantados pela sua ingenuidade, digna de uma "enfant" comprometida a uma limitada percepção.
Luísa é a nossa guia e nós, espectadores, os cúmplices desse olhar. Nunca nos rebaixamos perante ela e, sobretudo, nunca nos sobrepomos a esta, e é nisso que se concentra o grande feito da longa-metragem de Cristina Pinheiro: essa compreensão com este mundo infantil, com um devido respeito e crença.
“Menina” é isso mesmo, uma protagonista que nos arrebata e um elenco secundário que a suporta com vigor (Nuno Lopes e Beatriz Batarda), figurando um cenário de falso-bucolismo que diverge das evidentes e anteriores comparações anteriores.
Mas ... e como existe sempre um mas, a realizadora exibe uma inexperiência em atar os nós da narrativa. Como resultado, temos um episódico conto e reconto que cede, por fim, a uma miserabilista elipse a simular um velório evitável. É um sofrimento que se poderia resumir somente a uma imagem, e a força desta tinha potencial como mina emocional. Infelizmente, falta aqui “garra”, porque a delicadeza já a temos.
""Menina": nos cinemas a 25 de abril.
Crítica: Hugo Gomes
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