Interstellar
A HISTÓRIA: Com o nosso tempo no planeta Terra a aproximar-se do fim, uma equipa de exploradores é enviada na missão mais importante da história da humanidade: viajar para além da nossa galáxia para descobrir se a humanidade tem futuro entre as estrelas.
"Interstellar": reposição nos cinemas a 9 de julho.
Crítica: Daniel Antero
Mais do que olharmos o céu estrelado e entrarmos numa discussão etérea, no nosso âmago está sempre a ânsia pela aventura, a crença na descoberta de algo tangível, a vontade de partir.
Esta aspiração levou-nos a criar ballets cósmicos de génio único, alimentando a ciência e a tecnologia que desenvolveu os eventos marcantes da humanidade. Uns viveram "in loco"... outros aguardam que o cinema lhes apresente a oportunidade.
Com a Terra e os seus recursos devastados, em "Interstellar" partimos com Cooper (Matthew McConaughey), membro de uma equipa de exploradores espaciais, em busca de um planeta onde a vida possa prosseguir.
A missão acredita que a teoria de Einstein-Rosen, onde buracos negros perfuram o universo criando pontes entre universos paralelos, é a solução para a sobrevivência. Cooper parte com aura de predestinado, mas sofre pois terá de deixar dois filhos para trás.
Christopher Nolan é o manipulador das nossas expectativas, abrindo "Interstellar" como um manual de normas, dando voz à teoria científica.
Com o apoio da consultoria do físico Kip Thorne, os princípios são expostos em diálogos para abrirem caminho à partida. São forçados e gratuitos, esquematizados para dar a conhecer as probabilidades de sucesso da missão e o risco das apostas de cada personagem.
Mas nada nos prepara para como e quando vamos regressar, onde entregues à força de um buraco negro, vamos colocar em jogo todas as nossas convenções dimensionais e o sentido do tempo entre aqueles que partiram e os que ficaram em terra.
Agora que "Interstellar" volta às nossas salas em 2020, seis anos após a estreia, temos o convite para nos entregarmos à ingenuidade e admiração.
Em pleno IMAX, absorvidos pela banda sonora cerimonial de Hans Zimmer, que evoca o minimalismo de Philip Glass, somos presenteados com imagens extraordinárias que cristalizam o tempo e nos reduzem à nossa escala.
É um espetáculo de sensações que Nolan nos proporciona, ao deslumbrar-nos com as nuvens glaciares, as ondas gigantes, os anéis de Saturno, a textura da vastidão galáctica. E que se acentua pungentemente quando recolhe à intimidade, dando-nos a ver a crise emocional do nosso herói Cooper (McConaughey num intenso momento de interpretação, um ano após ganhar o Óscar com "O Clube de Dallas") projectando-nos o destino e a sobrevivência de um sonho, de um homem e da humanidade.
Discorrendo a tradição do género de ficção científica, "Interstellar" traz consigo a poeira estelar de todos os filmes que nos levaram a presenciar a densidade complexa do universo.
Através de efeitos práticos ou computorizados, ilusões ou declamações literárias que inflamaram a nossa imaginação, foram filmes que materializaram galáxias, supernovas, planetas, mas sem nunca esquecer o poder assustador do vácuo desconhecido, onde nova vida ou a morte podiam ser encontradas.
Nesses momentos, feitos de ação padrão nestas narrativas, a iminência da flutuação corpórea, do abandono dos nossos, da luta com o tempo que se expande para lá do nosso entendimento, a fé e o espanto movem-se com novo impulso, colocando o amor ao nível de outras dimensões, forte o suficiente para fazer com que consigamos regressar.
Como Cooper, sabemos que, ao querermos partir, estamos a regressar...
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