No novo filme de Martin McDonagh, a virilidade e infantilidade dos homens peculiares que habitam os seus dois primeiros filmes ("Em Bruges" e "Sete Psicopatas") é substituída pelo ar intrépido da actriz Frances McDormand. E que excelente dupla se forma nesta comédia negra vencedora de quatro Globos de Ouro: “Três Cartazes à Beira da Estrada”.

Frances McDormand interpreta Mildred Hayes, uma mãe desolada mas determinada. Com espírito de John Wayne enraizado da cabeça aos pés, decide enfrentar com ar estóico todos aqueles que se sentem incomodados com a sua mais recente decisão: três cartazes à beira da estrada a pedir justificações à polícia de Ebbing, Missouri... que ainda não descobriu o culpado pela violação e assassinato da sua filha.

“Raped while Dying”; “And Still No Arrests?”; “How Come, Chief Willoughby?” são as frases que agitam toda a comunidade e trazem ao de cima a amoralidade e desconforto. Até do próprio padre da vila, que quer a sua paróquia sossegada e sem alarme.

Mas o pior está direcionado para o Xerife Willoughby (Woody Harrelson) e o seu ajudante racista e homofóbico Dixon (Sam Rockwell), de quem sentimos logo uma enorme desconfiança e antipatia... pois não parecem muito interessados em resolver o caso.

Enquanto Willoughby procura ajuizar Mildred sobre os cartazes e a inércia da investigação, Dixon é uma figura de baixo QI, que choca com os seus ideais redutores, antiquados e manipulados pela sua mãezinha.

A repressão e necessidade de vingança que Mildred e Dixon sentem à sua maneira, fazem ricochete um no outro, procurando respostas à força, num vilarejo que sabem nada ter mais para contar. E aí, entram os atores de enorme talento que dão vida a esta população: Peter Dinklage, Abbie Cornish, Lucas Hedges, Clarke Peters, Caleb Andry Jones, entre outros, estão em conluio com a dor de todos e protegem-se sem se questionarem.

Com um argumento rico em detalhes inesperados de algum "non-sense" e humor negro, solto nos diálogos e com coincidências que imitam a vida, Martin McDonagh balança a violência gráfica com a ternura, deixando, inesperadamente, o mistério da morte de Angela Hayes de lado.

Pois este é outro filme, onde a raiva e a morte são a energia irónica para um conto de uma terra perdida que procura ainda como lidar com um crime hediondo e a sua memória.

Com excelentes interpretações de Frances McDormand e Sam Rockwell, onde os seus monólogos e "beats" são fluídos como a escrita de McDonagh, começamos o ano cinematográfico em cheio.

"Três Cartazes à Beira da Estrada" nos cinemas a 11 de janeiro.

Crítica: Daniel Antero
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