A HISTÓRIA: Depois de se licenciar em Harvard, o jovem advogado Bryan Stevenson tem várias opções de emprego. No entanto, decide ir para Alabama defender quem foi injustamente condenado por crimes que nunca cometeram ou que nunca tiveram uma representação adequada, com a ajuda da advogada local Eva Ansley.


"Tudo pela Justiça" adapta o livro de memórias do advogado Bryan Stevenson, narrando os seus recursos e apelos a acusações de pena de morte, bem como a realidade de quem está desprotegido e vulnerável à autoridade do sistema de justiça criminal americano. A história principal é sobre Walter McMillian, acusado de assassinar uma jovem de 18 anos apesar das evidentes provas que indicavam a sua inocência. Graças a Stevenson, este tornar-se-ia o primeiro homem a ser libertado do corredor da morte no Alabama.

Como o prisioneiro, num papel contido e agastado, Jamie Foxx é gritantemente poderoso, revelando pelo seu olhar o quão destruído está. Já Michael B. Jordan, como o advogado, entrega-se de corpo e alma, numa representação confiante, também ela de raiva reprimida pois tem de lidar com a intimidação sufocante de um sistema legal corrupto e promíscuo.

Deixando respirar os factos reais da história, o realizador Destin Daniel Cretton opta pelo caminho sincero e eficiente, apresentando eventos do tortuoso processo legal, direccionando-se com precisão pelas incongruências da investigação primária e pelo depoimento dúbio de Ralph Myers (Tim Blake Nelson a roubar os holofotes). Enaltecendo a sobriedade, coragem e génio de Stevenson, opta também por ampliar as dificuldades e os valores da “Equal Justice Initiative”, um escritório de advocacia que fundou com o apoio da psicóloga Eva Ansley (Brie Larson), dedicado a terminar com o encarceramento em massa, punição excessiva e desigualdade racial.

Para exemplo, como uma meditação sobre dignidade e humanismo, foca-se nos companheiros de McMillian, também eles no corredor da morte. Recorre a grandes planos de rosto que só se expandem para mostrar o espaço claustrofóbico das celas, mostrando o apoio e a irmandade forjada entre estes homens.

Jamie Foxx, O´Shea Jackson Jr. e Rob Morgan pontuam diálogos e silêncios com rostos marcantes e olhares que são mais do que mera representação. Este último tem mesmo o papel principal na cena mais arrepiante, voyeurista, triste e crua: embora Stevenson e os seus tenham salvo 135 condenados, não nos esquecemos que, para outros, o telefone não tocou no último segundo para parar o interruptor da cadeira eléctrica.

O poder deste drama chega-nos pela carga desoladora que emerge de um passado não muito distante, sendo marcante lembrar que as injustiças raciais aqui presentes não ocorreram nos anos 1950, mas na década de... 1990.

De linguagem simples, onde se destacam os longos, polidos e certeiros discursos no tribunal, “Tudo pela Justiça” é eficaz na sua mensagem maximalista que procura mudar mentalidades sobre a desigualdade estrutural, o racismo, a brutalidade e a pena capital. Põe em questão a natureza da justiça nos Estados Unidos, celebrando com reverência o advogado já apelidado de “American Mandela” e oferece um breve vislumbre de esperança...

"Tudo Pela Justiça": nos cinemas a 16 de janeiro.

Crítica: Daniel Antero

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