
Em noite de greve do Metro, um Cais do Sodré muito calmo fazia antever pouca adesão ao concerto das Cansei de Ser Sexy, de regresso a Portugal para apresentarem o novo álbum, "Planta". E as previsões não falharam: a sala, com capacidade para mil e cem pessoas, estaria, talvez, pela metade.
A festa começou depois das 21h00, com as Anarchicks em palco. As novas miúdas do punk português traziam roupa e acessórios de várias cores e feitios, vestidas a rigor que estavam para a festa que faziam em palco.
Depois dos cabelos azuis e rosas, da maquilhagem cerrada e do rock n roll fresco das Anarchicks, começou, então, já passava um quarto de hora das dez, a festa com sotaque brasileiro. A abrir, “Art Bitch”, um sucesso do primeiro álbum das Cansei de Ser Sexy, com o mesmo nome. Com o clássico, vieram também as guitarras a estourar e as luzes de todas as cores.
“Oi lindos! Nós somos as Cansei de Ser Sexy”, apresentaram-se, seguindo em frente com “Move” aos comandos.Com um longo e liso cabelo preto, Lovefoxxx, a vocalista, ia ensaiando uns belos passos de dança, numa festa que demorou a aquecer. “Faz tempo que a gente não fala português num show. Vai ser um babado!” - e com esta alegria veio uma música do verão de 2013, “Hangover”. Sem pausas, logo a seguir, “Hits me like a rock”.
O cenário era todo tropical, repleto de folhas e vasos - não havia dúvidas que “Planta” tinha chegado. “Teenage Tiger Cat” fez-se, então, ouvir e, sem direito a paragens pelo meio, “Let’s Make Love and Listen to Death From Above” - outro clássico do primeiro álbum, que elevou, finalmente, o ritmo cardíaco da sala lisboeta.
A banda, formada há dez anos, servia o seu pop rock psicadélico, sempre com Lovefoxxx, qual guitarrista de metal, a fazer do seu farto cabelo uma personagem principal do espetáculo. Depois de uma pequenina pausa, que nem deu para recuperar fôlego, chegou “City Grrrl”, com a banda a fazer-nos viajar no tempo, até aos «bons velhos tempos» do projeto, que arriscava, na altura, uma atitude rebelde, quebrando os preconceitos de beleza feminina.
Da plateia, ouvia-se algum português do Brasil e, de vez em quando, um “saudades de São Paulo”. Do palco, Lovefoxxx respondia com um “saudades, sim, mas é muito bom estar aqui”.
Para a festa não perder gás, “Honey”, mais um exemplar de “Planta”, e a história de Júlia, a rapariga que, numa praça lisboeta, tocava flauta com as narinas e que conquistou as CSS.
Ainda havia tempo para mais algumas canções, antes da habitual primeira saída de palco: “Into the Sun” e “I Love You” antecederam o clássico“Music is my hot hot sex”, que pôs o público a cantar mais alto do que as protagonistas do concerto.
O encore trouxe “I’ve Seen you drunk Girl” e um outro estandarte do primeiro álbum de originais, “Alala”.
Há quem ainda se lembre de 2005, das CSS a integrarem o movimento "New Rave", com um álbum de estreia a vir, no Brasil, com um CD virgem, para que quem o comprasse pudesse copiá-lo e oferecê-lo a alguém. Para quem se lembra, as CSS que estiveram em Lisboa ontem estão diferentes. Vieram, mostraram a “Planta”, esquecendo-se de alguns dos grandes êxitos que as fizeram entrar no roteiro musical. Faltou, também, a folia de outros tempos, a energia dos primeiros álbuns e, coincidência ou não, outros membros da banda. Estão mais crescidas, talvez, mais maduras, com certeza, mas com “Planta” ao volante manter as raízes fortes em Portugal vai ser complicado, arriscamo-nos a dizer.
Inês Espojeira
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