A diretora executiva da Fundação Kees Eijrond, Mirna Queiroz, disse hoje que este projeto “estava pensado, mas não totalmente pormenorizado” com a fadista, que estabeleceu, há dois anos, contacto com a instituição neerlandesa que adquiriu a sua casa no Alto de Santa Catarina, na capital.

A ideia é abrir a casa a residências artísticas, mas também receber artistas internacionais que passem por Lisboa, explicou Mirna Queiroz, realçando que o objetivo é “manter vivo o legado de Mísia”.

Na casa, onde ainda “se sente o perfume de Mísia”, está atualmente a residir o intérprete jamaicano-americano David J. Amado.

A fundação abriu candidaturas e foram selecionados três projetos: o de Amado, o do escritor brasileiro Nuno Ribeiro e o da atriz portuguesa Francisca Neves.

As residências artísticas “apresentam projetos em torno da palavra em português”, explicou Mirna Queiroz.

Na conferência de imprensa hoje esteve também presente um dos herdeiros e amigo da fadista, Sebastian Figueiras, com quem a fundação trabalha de perto.

Sebastian Figueiras disse que este é um projeto de que “a Mísia iria gostar”.

A casa vai também abrir portas ao público, não de forma continuada, mas com “visitas guiadas, subordinadas a um tema”, explicou Mirna Queiroz.

Sebastian Figueiras recordou que a criadora de “Manto da Rainha” chegou a projetar “miniconcertos” na sua casa, onde receberia algumas pessoas, num ambiente íntimo.

Relativamente ao leilão de objetos como vestidos, joias, plumas, xailes, chapéus e fotografias da intérprete, vai realizar-se em novembro, e vai ao encontro do desejo de muitos fãs que queriam ficar com uma recordação da artista, explicou Figueiras.

Segundo o amigo e um dos três herdeiros de Mísia, o valor conseguido com o leilão “destina-se à construção de um túmulo, uma última pedra à altura da sua carreira”.

As cinzas da fadista encontram-se sepultadas no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

Além de Sebastian Figueiras, os outros dois herdeiros são Isaac Barros e Rizério Salgado.

Sebastian Figueiras disse que um dos vestidos de cena vai ser doado ao Museu do Fado e dois outros foram já doados ao MUDE, em Lisboa.

A fundação com sede em Utreque, nos Países Baixos, tem interesses na área da hotelaria e uma extensão em Lisboa, tendo anteriormente apoiado o bailarino e coreógrafo Jorge Salavisa (1939-2020), explicou Mirna Queiroz.

Mirna Queiroz afirmou que a fundação garantirá a curadoria da residência onde Mísia viveu, para a qual terá um orçamento anual, tendo em conta a sua manutenção como espaço de criação artística, visando “manter vivo o legado de Mísia”.

A fadista Mísia, que foi considerada uma inovadora do género musical, morreu, aos 69 anos, em Lisboa, no passado dia 27 de julho.

Susana Maria Alfonso de Aguiar, de seu nome de registo, nasceu no Porto e protagonizou uma carreira de cerca de 34 anos, durante a qual atuou nos mais variados palcos do mundo e recebeu diferentes prémios.

Mísia editou o seu primeiro álbum, homónimo, em 1991.