Palco Principal – Aos sete anos de idade, começaste a estudar música. Na altura, o que te incentivou, lembras-te?
Cristina Massena – Por um lado, a escola – integrava uma academia musical onde estudava piano e formação musical. Paralelamente, também se deveu ao meu avô e bisavô paterno, bem como ao meu avô materno, que também tocavam e tinham os seus próprios instrumentos musicais. Portanto, sempre tive uma infância e juventude muito rodeada de música, quem em casa, quer na escola.
PP – A música que fazes surge polvilhada com alguma cadência jazz, ligeiros apontamentos de música erudita e, claro, com muita influência pop. Cresceste a ouvir que géneros musicais?
CM – Sou muito eclética na minha audição musical. O espectro daquilo que oiço é vasto, não sou redutora – a não ser que não tenha mesmo qualidade.
PP – Consegues enumerar alguns nomes que tenham marcado a música que fazes hoje?
CM – Cresci a ouvir Miles Davis, Aretha Franklin, The Beatles… De facto, posso considerar-me uma pessoa muito atenta ao que se passa, quer em Portugal, quer no estrangeiro, quer na música alternativa, quer na música rock, quer no mundo da pop. A minha direçãomusical tanto é influenciada por um soul como por uma Bjork, Chopin, Tom Waits, Nick Cave, Anthony And The Johnsons… Aprecio muito todo o universo musical.
PP – Tocas mais algum instrumento, para além do piano?
CM – Não, mas este ano gostava muito de aprender a tocar guitarra.
PP – “O Que Não Se Vê” marca a tua estreia como cantautora. Do que trata, na generalidade, este teu álbum?
CM – Este disco toca, às vezes,numa temática mais social, outras vezes numa mais pessoal, retratando as minhas vivências. Eu acho que é um pouco um resumo da minha vida. Sou uma pessoa muito atenta ao que se passa no mundo e aos que me rodeiam. Tento sempre ser eu ao máximo e, quando deixar de o ser, deixo de escrever.
PP – Escolheste para single de apresentação do disco o tema O Meu Nome É Terra. O que pretendes transmitir nesta canção?
CM – A música começa com o seguinte verso: “Na tertúlia do amanhecer fracos são os rostos”. A primeira coisa em que pensei quando o escrevi foi naquelas pessoas que se levantam cedo e começam logo a trabalhar às quatro da manhã, em casa, que moram muito longe, que têm que apanhar transportes e perdem imenso tempo com isso. Sublinho esses dias cáusticos. Mas a música fala de outras coisas também. Por exemplo, naquela parte em que digo “é um sonho prestes a cair” realço a instabilidade que cada vez mais é frequente na vida das pessoas. Há famílias que têm uma condição numa semana e, passado um mês, podem já não a ter. É uma espécie de desabafo, no sentido em que as pessoas têm de olhar para as coisas de uma forma mais direta e mais reflexiva.
PP – O processo de criação de “O Que Não Se Vê” começou em 2007. O que originou tamanha demora? Uma vontade de fazer as coisas com calma, sem pressas?
CM – Estive a compilar as coisas, a escrever a reescrever, cerca de um ano e tal. A produção, no verdadeiro sentido da palavra, começou a ser feita mais ou menos em 2009. Foi o tempo que ditou que assim fosse – um tempo que muitas vezes não é pensado, mas que acontece.
PP – A música não éa tua única paixãono universo das artes. Gostas, igualmente, de desenho artístico e arquitetura, certo?Consegues conciliar todas estas paixões ou as mesmas atropelam-se entre si?
CM – A música sempre foi prioritária, embora eu seja uma pessoa que gosta muito de todo o género de arte. Por exemplo, quando estou a escrever uma letra, faço uns rabiscos e uns desenhos ao lado. Por isso é que faz sentido os desenhos acompanharem o livrete do meu álbum, porque acabam por desvendar mais um pouco do meu processo de criação do disco. E isso permite às pessoas entrarem um pouco no meu mundo. Aquilo não é ilustração – é algo que faz mesmo parte do meu processo de trabalho. É uma extensão física de mim que leva um pouco da minha identidade. Eu, pelo menos, gosto muito de ler os livretes dos discos que compro e ver como é que os mesmos foram construídos, etc.
PP – Pedro Abrunhosa e Paulo Prala são alguns dos nomes que vêm referidos na ficha técnica do álbum. Sentes-te, de alguma forma, apadrinhada?
CM – Não considero que seja um apadrinhamento. Considero que tenha sido um trabalho em conjunto. O Pedro gostou das canções – há todo um universo da palavra que partilhamos, o Pedro escreve muito bem em português. Admito que tenha havido algum reconhecimento da parte dele e isso deixa-me feliz. Mas acho que foi um trabalho conjunto, uma parceria.
PP – Já tens algumas datas agendadas para a apresentação oficial do teu álbum?
CM – Não sei, estamos a falar ainda, estamos a combinar. Estamos, neste momento, mais numa fase de promoção, de dar a conhecer o disco, de falar um pouco sobre ele e aproximar as pessoas dele.
Manuel Rodrigues
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