
“Há 15 anos que não sentia isto que estou a sentir”, partilhou Sérgio Matsinhe, mais conhecido por General D, naquele que deve ter sido o concerto mais aguardado do Lisboa Mistura, um projecto intercultural português onde a diversidade e sonoridades do mundo são a palavra-chave.
General D, o primeiro rapper a assinar um contrato discográfico em Portugal, atuou no Largo do Intendente, em Lisboa, passadas décadas. O “pai” da cultura do hip hop em Portugal havia desaparecido sem deixar rasto. No entanto, o rapper da carapinha deixou um legado.
“Obrigado por tudo o que fizeste pelo hip hop” agradeceu Boss AC a General após juntar-se ao mesmo para o “Atake dos Karapinhas”. Mas a história do hip hop não se viveu apenas através das rimas de Sérgio e do MC de “Sexta-feira (Emprego Bom Já)”. A velha escola representou-se com quem também “Não sabe nadar”, dos Black Company, mas desta vez a contarem a história do “Pedro Pedreiro”.
E porque a noite comandada pelo General merecia um balanço, pois passaram duas décadas, entrou a Family de bata branca a dizer que o “Rappi Ta Dodo”.
A noite que contou com convidados do início ao fim, espécie de chuva de estrelas para os amantes do hip hop português, teve lugar para surpresas. O “pai” baptizou o filho, Jaka, com a Karapinha. Pai e filho partilharam o palco em “estilo africano”, dizendo “eu sou moçambicano”.
General D, um guerreiro que lutou pelos direitos humanos através das palavras, do rap, deixou a mensagem com a soul do Sam, “Não deixes de lutar”, homenageando líderes e ativistas que marcaram a história da humanidade: Nelson Mandela, Malcom X, Che Guevara, entre outros.
Djoek trouxe o funaná ao palco das músicas do mundo com “Vida”. NBC, que “esperava por este momento há 20 anos”, juntou-se à Reghetização de General D.
A moçambicana Selma Uamusse, a prima que General descobriu em Portugal, trouxe a marrabenta ao palco com “Batuke”, reforçada por Chullage. Chullage, o rapper lusocaboverdiano que dançou em palco a música tradicional moçambicana, mostrou ali a influência de General. “Quando o ouvi na rádio disse que queria fazer o mesmo que esse gajo”, confessou.
General D foi até então um dos grandes enigmas da música portuguesa. Durante estes vinte anos andou pelo mundo e fixou-se em Londres. Agora com dois filhos, que apresentou em palco, diz que o concerto foi dos melhores da sua vida.
O rapper amadureceu, quis dedicar este concerto à nova geração e desafiou os rappers da nova escola que estivessem no público a subir ao palco. Entre eles encontrava-se Dama Bete, também moçambicana e a primeira rapper feminina a assinar em Portugal um contrato com uma editora. Dama Bete aceitou o desafio e improvisou no palco.
O concerto foi um reencontro de gerações, da velha e da nova escola. Mais uma viragem da história do hip hop português que deixou então o orfanato.
Tetxo @Ana Oliveira Foto@Inês F. Alves
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