Em entrevista à Lusa, o cantor, guitarrista e compositor diz-se ecuménico, pela "busca da unidade entre todas as religiões", mas admite que a sua carreira artística choca com o estilo de vida praticado nos mosteiros da Ordem da Graça e Misericórdia, onde viveu 13 anos com a mãe, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Uruguai.

"Essa é minha única e constante guerra", declara Castello Branco. "A vida no mosteiro preparou-me para enxergar sem a venda, amar sem o púlpito, ter consciência através da convivência. Porém, os traumas que minha persona viveu quando vim morar na cidade [aos 15 anos] ainda me assombram e dificultam um pouco minha caminhada", confessa.

Na sua primeira digressão fora do Brasil, o músico de 28 anos apresentará o álbum de estreia "Serviço", cujo título invoca o principal objetivo da sua vida religiosa e ajuda assim a explicar a "importância do equilíbrio" entre a exposição pública e a existência espiritual.

"É o tal do sacrifício", defende Castello Branco. "É muito necessário para alcançar níveis maiores de consciência e parte do poder está em confiar - está na energia que você coloca quando confia de verdade", acrescenta.

Para o artista brasileiro, o mais importante de uma vida de serviço é procurar "a harmonia com as coisas em redor, tanto interna quanto externamente", assim como "não possuir mais do que o outro, nem querer possuir".

"O serviço é diário, o cuidado com o outro é diário, a busca do verdadeiro Eu também. [No mosteiro] Vivíamos isso diariamente, aprendendo sobre o valor e o poder da fé, da oração, da comunhão", explica.

Se o cântico coral foi o que primeiro o despertou para a música, os instrumentos revelaram-se depois uma forma de libertação da vida monasterial. "O meu contexto me ajudou muito na busca do que é o violão pra mim", revela. "[Mas] Não costumo me ver como músico. Tenho o violão e o canto como 'plataformas' [de expressão] e minha motivação em comunicar o que sinto é o que tem feito minha carreira", esclarece.

Castello Branco revela-se assim por inteiro no seu primeiro disco - "Está lá tudo de mim", garante -, mas, também aí, a música apresenta-se como mero recurso para algo mais completo. "Não me interessa que som eu faço. Com os dedos faço um, se me derem um elástico posso fazer mais dois. A questão é que tudo isso serviu ao todo - nós somos o aqui, nós somos o agora", elucida.

Já no seu segundo álbum de originais, atualmente em gravação, esse universo interior dará lugar à "roça da rua", numa referência a campos de cultivo e ambientes da ruralidade. "De ciclo em ciclo, o artista vai-se percebendo mais, vai aprofundando a sua comunicação. Um disco é o 'amarrar" de um ciclo e ainda não sei bem o que será do segundo, mas as canções e o entendimento já estão sendo plantados", anuncia.

O primeiro concerto de Castello Branco em Portugal realiza-se esta sexta-feira no Auditório de Espinho. No sábado, o músico atua no "Aqui Base Tango", em Coimbra, ao que se segue o espetáculo na Casa Independente, em Lisboa.

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